quarta-feira, 27 de maio de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 2

Lucy In The Sky With Diamonds

Os olhos doíam. Por mais que ele tentasse abri-los, doía. Sentia-se em pé e em movimento apesar de estar parado. Podia estar sentindo a brisa levantar seus cabelos, mas por mais que tentasse respirar não conseguia. O rapaz de cabelos ruivos escuros finalmente se move conseguindo abrir os olhos num movimento rápido que atiçou seus sentidos levando um choque de tudo ao mesmo tempo: a dor no corpo, o cheiro de fumaça, a vista cega pela claridade, o gosto de remédio nos lábios e um barulho ensurdecedor tomando conta de seus ouvidos.
Encontrava-se num barco em um rio no qual nunca tinha visto. O céu, ele podia tocar, melava como marmelada e cheirava a tangerina, provavelmente vindo das árvores que nasciam na proa, ele estranha.
Tudo era tão colorido e tateável, um sonho ou talvez realidade que se misturavam tornando a sensação tão indescritível que somente vista para se classificar. O céu era doce e da madeira do barco nasciam árvores de tangerina colorindo o lugar.
-Walrus!
Como se tivesse levado outro choque, o rapaz volta os seus olhos aflitos para todos os lados como se procurasse alguém desesperadamente. Uma sensação de perda e solidão o consumiu de tal forma que ficou enjoado, ter escutado aquela voz que conhecia tão bem, ao invés de felicitá-lo, na verdade o fez gritar como num socorro:
-L...
O rapaz põe sua mão na garganta assustado por não conseguir completar a frase.
-Lu...
Novamente ele tenta em vão fazendo grande esforço para a palavra sair de seus lábios.
-Luc...
A voz demorava a sair como se pesasse toneladas, o ar não era rarefeito para isso ocorrer, julgou que talvez fosse o peso que o nome trazia para si.
-Lucy...
Olhando para todos os lados, procurando uma determinada figura, o rapaz sobe uma escada que levava até o segundo andar do barco para observar melhor. Ao chegar lá, ele frisa os olhos em direção a terra firme quando de repente ele a vê. Uma garota com olhos azuis de caleidoscópio acenado para ele, com flores de celofane amarelas e outras verdes sobressaindo sobre seus cabelos pretos azulados assim como o lençol que lhe cobria.
Impulsivamente, Walrus se debruça no peitoril para observá-la melhor, mas seus olhos tocam o sol e voltam a cegá-lo no mesmo momento em que a menina no litoral se vai.

Fica tudo escuro de novo, só pequenos pontos que brilhavam davam a noção de se estar flutuando no espaço. Milhões de diamantes brilhando e apenas um rosto que sumia e aparecia.

Ao abrir os olhos novamente, ele se vê parado no começo de uma ponte sobre uma fonte e lá do outro lado, lá estava ela novamente. A garota de cabelos esvoaçantes que combinava seu estranho vestido ao céu da noite estrelada e seus olhos a dois diamantes brilhando feito um caleidoscópio. Ele então corre ao seu encontro pela ponte mais longa do que de imaginava, mas antes de atravessá-la por completo, Walrus se depara com figuras estranhas. Eram pessoas montadas em cavalos de pedra que comiam tortas de marshmellow. Todos sorriam como Monalisa, sabiam de algo que não sabia, ele imagina. Desconfiado ele volta a olhar para frente para ver se Lucy continuava no final da ponte, mas para sua infelicidade, não mais. Walrus volta a fitar os rostos risonhos e sarcásticos que haviam bloqueado sua passagem quando de repente sente algo tremer em seus pés. Pequenas flores começam a brotar do concreto como se fossem pipoca, milhões de flores de celofane, amarelas e verdes, que cobriam seus pés e engordavam quando estas se encontravam a outras. Antes que pudesse perguntar a aquelas estranhas figuras que lugar era aquele, no mesmo milésimo que pode ver que não estavam mais ali, descobriu o porquê quando se sentiu sendo levado por aquelas flores que cresciam alto e mais alto o levando até o céu.
Como só um sonho louco podia lhe proporcionar, lá estava ele novamente na beira do rio vendo seu barco ancorado perto da margem. A cada flash ficava mais estranho, afinal o que fazia ali? Não se lembrava como, e nem... O que tinha feito antes dali.
Uma buzina de carro o assusta e encerra seu devaneio, era um táxi feito de jornal parado perto da margem, sem um motorista, só esperando de porta aberta seu passageiro entrar. Como já estava naquela viajem mesmo, resolveu entrar, afinal não valia apenas ficar tentando discutir racionalmente algo tão surreal, só podia ser sua cabeça lhe aplicando uma peça, teria que tratar do assunto com a maior loucura possível, pensou ao subir na traseira com a cabeça nas nuvens apesar de ter decidido não pensar mais naquilo. Enquanto novamente se deixava levar pelos pensamentos involuntários, também era levado fisicamente pelo táxi de jornal.

Fica tudo escuro de novo, só pequenos pontos que brilhavam davam a noção de se estar flutuando no espaço. Milhões de diamantes brilhando e apenas um rosto que sumia e aparecia. As estrelas mais brilhantes ficavam eqüidistantes e em volta dela um buraco negro se formava. Linhas e mais linhas de encontro ao infinito o cegavam por serem tantos espectros vindo de um só olhar.

Ao voltar a si, o rapaz se vê num trem numa estação. Era ainda dia e estava sozinho no mais completo vácuo de seus ouvidos. Ele olha de um lado para o outro para ver se a encontrava novamente, tinha de estar lá, era bem coisa da Lucy. Walrus tenta respirar fundo, mas nota que nenhum ar saia ou entrava em seus pulmões apesar de se sentir vivo. Talvez sua capacidade como ser humano de sentir as coisas só vinham quando ela estava por perto, ou talvez só se importasse com isso no momento, ignorando outras e utilizando outras mais por total egoísmo.
Um som ensurdecedor de apito de trem lhe acorda até a alma, ela estava ali. No momento em que ia pular do trem, algo macio segura seu ombro e o puxa em câmera lenta para trás. Era um carregador de malas feito de massa-de-modelar, sorria repuxando sua viscosidade para cima de um jeito para assustar. Provavelmente estava ali para pegar seu bilhete ou quem sabe levá-lo até sua poltrona. Vestia um terno de pano roto e em seu frágil pescoço havia uma gravata de vidro reluzente assim como os olhos da menina que estava a procurar.
De repente o trem começa a se mover, Walrus tenta se desvencilhar daquela mão pegajosa tentando inutilmente se fazer expressar que precisava sair, quando uma imagem fez sua vista congelar. Lá estava ela novamente, vestida como Morfeu, atrás da catraca com olhos tão brilhantes feito calidoscópio. Estava dando tchau e apesar de estar sorrindo, Walrus achou que seus olhos brilhavam tanto, não sei... Estavam com vontade de chorar? Olhos brilhantes pela água que se fazia presente, mas que ela não deixava demonstrar. A imagem fica em câmera lenta dando uma última chance para eles se olharem e deixarem-na ficar e ele ir em paz.

Fica tudo escuro de novo, só pequenos pontos que brilhavam davam a noção de se estar flutuando no espaço. Milhões de diamantes brilhando e apenas um rosto que sumia e aparecia. As estrelas mais brilhantes ficavam eqüidistantes e em volta dela um buraco negro se formava. Linhas e mais linhas de encontro ao infinito o cegavam por serem tantos espectros vindo de um só olhar. Era ela ali no espaço, seus cabelos pretos azulados o infinito que adorava se perder, seus olhos diamantes que mareavam tristezas que seu sorriso alegre não se deixava dizer.

-Alguém chame uma enfermeira! Ele abriu os olhos! Ele abriu os olhos! Walrus? Está me ouvindo? Sou eu. Por favor, me responde. Qualquer coisa Walrus, por favor.
-Lucy...
-Lu? O que tem ela?
-Eu a vi...
-Onde?

-No céu de diamantes.

2 comentários:

  1. Nossa. Alucinado este capítulo.

    Nossa, mas foi perfeito. Toda a narração, os detalhes, a atmosfera, a loucura da viagem.

    Caramba.

    O nome dele é morsa?

    hahaha

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  2. Que bom que perguntou =) É o sobrenome dele. Vocês, caros e ávidos leitores, terão que esperar para saber qual é o seu verdadeiro nome.
    ha-ha-ha sou má.

    ps: muito obrigada pela lembrança de lindos e notáveis comentários, obrigada por prestigiar. Obrigada mesmo.

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