domingo, 28 de junho de 2009

Trilogia FDS (1)

Quando a gente acha que nada de novo acontece na nossa vida é aí que mais nos enganamos, na primeira semana de férias eu já tenho história para contar, esse final de semana (FDS) começou engraçado e terminou ainda melhor. Vou contar em poucas palavras as minhas reminiscências de eventos que levei para o travesseiro numa trilogia em três partes (Não! Sério? ¬¬”) de coisas minhas loucas, engraçadas, neuróticas, desatentas, humorísticas e divinas que aconteceram com esse mundinho chamado Laís.

Friday
Capítulo de hoje:
“Sim, (lá se) foram dez reais”.

Tudo começou nessa sexta-feira, primeiro dia de fato de férias, resolvo acordar cedo para pegar uns filmes e um ônibus para a casa do meu avô na zona sul. Pois bem, aí vou eu pela rua feliz da vida escutando MP3, tinha desistido de pegar os filmes (tinha Michel Melamed hoje ^^), mas ainda estava de pé a minha ida rápida na casa do meu vô (que nem estava aqui, mas iria servir para passear e andar à ermo, coisas que adoro fazer no meu autismo crônico), então peguei o mesmo ônibus que geralmente vou para a faculdade (sou mão de vaca também, metrô muito caro rs) e entreguei para o trocador uma nota de dez reais, pois não tinha menor. Ele me disse que eu precisava esperar um pouco porque não tinha troco, disse que tudo bem, mas quando me virei para ver em que lugar iria sentar, me aparece uma pessoa muito parecida com alguém em especial, resultado: fiquei meio atordoada (sou muito míope e não conseguia distinguir seu rosto), caminhei no corredor meio aérea tentando não parecer muito neurótica olhando para ele quando de repente o ônibus dá um tranco me levando junto para o final dele. Coisa que fiz com toda a minha classe desajeitada pisando em falso e desengonçada. Terminou que sentei umas duas cadeiras atrás dele só observando de um jeito psicótico a cada virada de esquina o cabelo, ou o perfil, ou estilo de roupa, ou o mesmo All Star (!) para ver se conseguia finalmente distinguir; repetia para mim mesma que era uma idiota por não ter trazido os óculos, por ter cambaleado na frente dele e do ônibus inteiro, de não ter tido coragem, chegado e falado “oi”.
Putz...
Enfim, chegou o meu ponto e quando eu fui sair me virei um pouco para trás fingindo que ia prender o cabelo quando o que vejo? Tchan tchan tchan tchan! Não era ele! OHHH! Saí tão frustrada do ônibus que esqueci de pegar o troco com o trocador, mas sabe? O mais engraçado não foi eu ter ficado perseguindo um total estranho (e sósia), nem ter deixado dez reais com o cara, nem ter pagado o mico de quase cair feio num ônibus em movimento, ou não ter dinheiro para voltar e ter tido que ligar para minha mãe para depositar dinheiro na minha conta de exatos R$ 2,44, não... O mais cômico foi eu correndo atrás do ônibus após ter percebido a burrada que tinha feito e ter desistido depois de perceber que todo mundo olhava para mim com a aquela cara de “coitada... é louca”.
ps: O saldo positivo do dia até compensou. Fui ver o espetáculo Michel Melamed, quer dizer, DO Michel Melamed (muito bom, perfeito, graçinha, show, inteligente, ideal... ele também). rs

Trilogia FDS (2)

Sábado
Capítulo de hoje:
“Vem que depois eu te explico”.

Não dá um friozinho na barriga quando alguém fala para você: “Vem que depois eu te explico”? É, foi isso que aconteceu nesse sábado mais ou menos às dez e quinze da noite, quando eu de pijama, deitada no sofá, comendo salgadinho japonês e prestes a encerrar minha noite badalada com um filme que provavelmente teria visto mais do que comi arroz na minha vida, o telefone toca. Era a minha amiga Fran falando que tinha uma festa numa boate no Leblon, aniversário de uma amiga nossa. Eu falei “ah legal, quando?”, aí ela “daqui a 45 minutos, se arruma”. Estava horrorozinha, de pijama, comendo salgadinho, me preparando para dormir e acordar cedo amanhã para um almoço em família quando me vem aqueles insights de “po, dezenove anos na cara e nunca foi a uma boate, ou pára de ser tão boa filha e vai aproveitar sua idade, ou caramba, amanhã tenho que acordar cedo, ou como vou voltar, ou putz, só tenho dez reais na carteira”, e como minha ilustre amiga tem um poder de persuasão incrível, mandei tudo para Bagdá e mandei um “tá bom, já to me arrumando”.
Adoro fazer coisas meio irracionais e inconsequentes às vezes, coisas que nem paro para pensar se vou gostar, se minhas paranóias vão deixar eu me divertir, mas dessa vez foi diferente, estava realmente com vontade de ir e aproveitar... Me dedico tanto ano todo, sempre tão cautelosa, cheia de minhocas na cabeça, afinal, que mal faria uma noite para dançar e rir com uma amiga, não é? Fui. Queríamos, na verdade, chegar lá antes das onze para entrar de graça, mas ficamos na fila e enfim... Lá se vão vinte reais (a graçinha da minha irmã tinha me emprestado mais vinte e foi com ele que eu paguei, ufa), mas pelo menos tínhamos vinte reais de consumação que gastei em uma sukita de 4,50; uma cerveja de 4,90 e mais um espetinho de frango (pasmem) de 7,90!
Paciência.
Só sei que me diverti, o lugar era dividido em dois ambientes diferentes: um tocando música ao vivo de clássicos de Cazuza, Cássia Eller, Lulu Santos e Legião, e em cima a boate propriamente dita com música eletrônica e funk, na qual confesso que fiquei pouco, gostei de cantar e dançar pra lá e pra cá músicas que adoro ao som de um violão.
É bom, né? Superar paranóias de que você cria e nem sabe de onde, cantar, rir, dançar, não saber se o dinheiro vai dar, se acabar, só para variar... (rs)
A noite terminou lá para as três e meia quando fui dormir na Fran e para isso pegamos um táxi eu, ela e a irmã dela quando dinheiro não deu. Só tinha oito e elas 14 acho... Pegamos em casa quando chegamos, claro. Pus um pijama delas mesmo, escovei meus dentes com o dedo e um filete de pasta de dente, lavei meu pé (com calos; eles me lembraram) e puf! Fui dormir, porque amanhã tinha mais, muito mais.

Trilogia FDS (3)

Dimanche
Capítulo de hoje:
“E foi tudo uma grande cagada divina”.

Tudo bem no começo: minha mãe tinha ido me buscar na casa da minha amiga, fomos de carro até a casa da minha tia para comer um yakissoba feito em casa para o meu avô que tinha chegado de viajem e comemorar o fato de estarmos juntos e essas coisas de almoços em família característicos aos domingos. Pois bem, o almoço estava divino, ainda ganhei um presente de aniversário atrasado (\o/), conversei e ri de besteiras... Normal? Até certo ponto. Sucedeu assim quando estávamos quase chegando em casa para ver o jogo do Brasil com os Estados Unidos até que... Tchan tchan tchan tchan! O carro morreu. Sério, eu não sei se xingava Deus, ou se me preocupava com lugar meio barra pesada que estávamos, ou com os meninos de rua que se aproximavam, ou com os carros que buzinavam por estarmos paradas no meio da rua ou com a minha mãe que teve uma síncope. Pois bem, acabou que aqueles meninos nos ajudaram a empurrar o carro (que fofos né? Super legal, adorei), paramos numa praça sem ninguém (quem disse que aos domingos as pessoas precisam sumir??) e tentamos ligar o carro uns vinte minutos sem sucesso. Todo mundo estava estressado, não era a primeira vez que esse carro dava problema e minha mãe já tinha gastado muito em cima dele, mas ao sentar no banco de trás e escutar os suspiros de tentativa do velhinho, foi aí que me dei conta do quanto sou trouxa (sabiam que tenho pena de estourar bola de soprar de aniversário? ¬¬”), senti peninha dele. Podem rir, é engraçado, mas não é que eu tenha uma relação material tão intensa com tudo, só não pude deixar de notar que fiquei com peninha do carro e não da minha mãe que estava surtando. Hahahhaha Engraçado.
Acabou que paramos ao lado de um ponto que o moço do reboque sempre fica (aleluia) e ele ainda nos ajudou a religar o carro enquanto eu, minha irmã e minha mãe tentávamos empurrar, eu estou rindo agora, mas eu estava realmente preocupada, as coisas estavam estranhas e para completar vimos uma (quase) briga entre torcidas de futebol que estava acontecendo ali perto. Humor negro, caros leitores, estava sem tomar banho desde ontem de tarde (confessei rs) dando o meu reino por um banho, sem paciência querendo ir para casa e ainda ver o jogo (que não vi).
Enfim... Andei de caminhão! Nunca tinha entrado num caminhão antes, fomos rebocadas e levadas até uma oficina pelo rebocador gentil que nos deu uma carona para casa depois (detalhe: tinha MUITA coisa no porta-malas, levamos tudo na cabine da frente, todas apertadas entre sacolas, eu sentada no colo da minha irmã, curvas e meu Deus...).
Foi tudo realmente uma grande cagada divina, podíamos ter parado no túnel ou no viaduto, podíamos não ter conseguido um reboque, podíamos não ter encontrado pessoas gentis no decorrer do caminho. Divino, onde quer que esteja, obrigada.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 7

She Loves You

Eram duas horas da tarde quando o vento do mar da Irlanda levantava a franja cor-de-rosa da garota na proa do ferryboat; ali em Holyhead, a banda embarcava para Dublin, o próximo destino do tour pela Europa.
-Ela te ama.
-Yeah, yeah, yeah... Billy resmunga indiferente colocando os óculos escuros e cruzando os braços sobre o peito.
Walrus balança a cabeça dando os últimos tapinhas sobre o adesivo promocional do festival de Snowdonia na traseira do ônibus.
-Mas ela te ama cara. Não devia ter sido tão grosseiro com ela ontem. Vai lá pedir desculpas à ela.
O garoto continua a conversa com o sujeito melindroso deitado sobre o teto do ônibus e sem muita paciência.
-E você não desiste? Já disse que pouco ligo para o que aquela garota pensa ou deixa de pensar, por favor...
Walrus volta a esboçar um sorriso no rosto enquanto pegava o mapa do país de Gales para também colá-lo na lataria do ônibus amarelo. Ele arranca um pedaço de fita adesiva com os dentes e a descansa na bochecha para depois usá-la, logo após ele vira-se para o lado esquerdo e olha para frente espiando Prudence conversar com Molly na proa e Dan fumar do outro lado sozinho.
-Amor Billy. Amor. Não é uma coisa que se acha por aí em qualquer esquina.
-O que aquela menina sente não é amor Walrus. É no máximo admiração, sei lá.
Billy assobia baixinho e sorrindo com desdém.
-Aquela criança não sabe o que é o amor. O que é perdê-lo...
De repente, não conseguindo se controlar, Walrus dá uma gargalhada que levou até o guitarrista tirar os óculos e olhar para baixo para ver o que tinha de tão engraçado no que acabara de dizer.
-Você pensa que perdeu seu amor? Engraçado irmão.
O baixista limpa o canto do olho direito encarando em seguida o rosto esfíngico de Billy Shears.
-Achei que nunca tinha encontrado. Que hipócrita que você é.
Ele sobe no pára-choque do ônibus agarrando a mão de Billy logo em seguida, pisa no capô do ônibus com seu All Star verde musgo surrado e encara a imensidão azul que dava para ver dali de cima.
-Bom, eu a vi ontem e é em você que ela está pensando.
-Quem?
-Prudence cara! Presta atenção.
Billy sorri não mostrando os dentes e passando um braço para trás da cabeça após deitar-se novamente o capô.
-E ela me disse o que dizer...
-Que “ela te ama”.
-“Te” ama Billy Shears, não muda de assunto, maldito.
Walrus bica de leve as costelas finas de Billy que também sorria sarcástico como sempre.
-E você bem sabe que isso não pode ser ruim, ela te ama e você sabe que deveria estar feliz. Só não quer admitir.
O garoto se agacha deitando ao lado do amigo e encarando de barriga para cima as nuvens que passavam.
-Qual é... Prudence, no seu vocabulário, é quente e para mim, grande candidata em degelar esse seu suposto coração.
-Essa garota é masoquista Walrus, eu a trato mal para ver se se toca logo de que nunca irei querer nada, mas ela não entende. Meu Deus... Ela é maluca.
O guitarrista diz com um cigarro na ponta dos lábios gesticulado como sempre fazia quando estava irritado. Walrus fecha os olhos tentando imaginar porque alguém não iria gostar da Prudence, se não tivesse já as suas questões com certeza ficaria apaixonado, Prudence era do tipo de se apaixonar rápido não só pela aparência, mas também pelo que continha. Pobre Billy, ele pensa sorrindo para si enquanto pegava um cigarro também.
-Ela disse que você a machucou tanto que ela quase perdeu a cabeça, mas agora ela sabe que você não é do tipo que machuca. Ela disse que te ama, e eu volto a repetir que você sabe que isso não pode ser ruim.

O garoto solta a fumaça pelas narinas quando um pensamento involuntário tomou sua cabeça, a visão de um rosto nas nuvens disformes a cima o fez desestabilizar um pouco.
-Com um amor desses, você devia ficar agradecido. Vai por mim... Vai por mim.
Os amigos se calam um pouco só escutando os murmúrios abaixo e o ínfimo barulho do ferryboat cortar as águas azuis. Duas gaivotas passam por cima deles e ali ficam sobrevoando e observando o momento não muito confortável entre os dois, a caixinha de Pandora tinha sido aberta...
-Walrus...
Antes que Billy pudesse se pronunciar, Walrus se levanta ainda de olhos fechados e salta do capô sem muita dificuldade na aterrissagem.
-Walrus volta aqui! Walrus!
-Você...
O garoto volta seu rosto para o amigo que ainda o observava de cima e completa após jogar a gimba do cigarro no mar:
-Você agora sabe que é com você, eu acho que isso é apenas justo. Sabe, o orgulho pode te machucar também, por isso, peça desculpas a ela. Porque ela te ama, e você sabe que isso não pode ser ruim, com um amor desses, você devia estar feliz.
Dito isto, Walrus sorri sem mostrar os dentes, coloca as mãos no bolso do jeans e se encaminha em direção as duas meninas de braços abertos na proa.
-Yeah, irmão, yeah...
Billy corresponde o sorriso mesmo depois de Walrus não estar mais ali voltando-se para o que estava fazendo: nada.

síndrome de Amelie.

"Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (...)"
Nietzsche

*a borboleta é de verdade, verdade.

terça-feira, 23 de junho de 2009

habemus pc!

Ficar sem computador no século XXI é o mesmo que ficar fora de toda a rede social da sua idade, especialmente se você é adolescente, filho, prepare-se para sofrer as consequências. Como é mesmo que as pessoas se comunicavam antigamente?? Ah sim, cartas! As famosas testemunhas de conversas íntimas e pessoais, realmente pessoais até porque quem as escreve é a própria pessoa. Estranho como as coisas mudam, não dá mais para viver sem esses gadgets malditos (e viciantes) ao menos que fique como eu um mês sem computador (bebê... =[) e um dia sem celular sem sofrer pelo menos um pouquinho de início a falta que nos faz fazer parte desse mundão conectado.
Para falar a verdade eu não sou tão viciada assim, confesso ter orkut mesmo só para manter contato com velhos amigos (adoraria voltar à época do email [a carta turbinada 2.0], mas "bloco do eu sozinho", é verdade), sei lá, pode ser traumas passados, pode ser minha desconfiança naquele show de narcisismo ou só porque sou estranha mesmo, acho que daria mais valor a uma mensagem de celular pré-definida no dia do meu aniversário do que um "parabéns" só porque meu nome está lá nos aniversariantes do mês... Sei lá... Eu não estou depreciando as mensagens sinceras e fofas, mas entende o que eu digo?? Se não existisse isso algumas pessoas nem lembrariam e convenhamos que a mensagem pré-definida pode ser meio apática, mas pelo menos a pessoa se lembrou de você e ainda gastou dinheiro com isso! hahahhahaha Brincando.
Minha relação com esse mundo tecnológico é até saudável, eu também quero comprar um Iphone, eu também quero que a minha irmã ganhe logo o Wii, eu também fico babando nas vitrines de lojas tipo Fnac, Fast Shop ou Saraiva, mas é comedido, fico legal com o meu celularzinho que toca MP3 e tira fotos horríveis e com o meu computador cheio de contas minhas por todos os sites que imaginar, mas que na verdade só entro de vez enquando para ver se alguém me contactou e saber das novidades... Só. Acho que com o blog é diferente, pois sou "eu" e é bom saber que as pessoas curtem isso aqui, o que você tem aqui na sua cabeça, seu verdadeiro "você", no caso "eu", tendeu? ^^
Por isso reconheço que senti sim saudades de ver meu orkut sem muitas novidades e pessoas que não vejo a um tempo, mas que amo mesmo como se as tivesse visto ontem, de entrar offline no MSN e dar aquela checadinha básica e ver quem está online, do meu blog darling, da minhas músicas (ai... 10GB... Um mês, gente!), de escrever sossegada no escuro de madrugada os meus 84 poemas e mais sei lá quantas histórias, do meu papel de parede (fique sem ele um mês para ver se não faz falta) e das horas perdidas (ou aproveitadas?) fazendo nada... ai, ai.
ps: Ah! Não falei do celular, né? Pois então, quando penso que sou tão desapegada assim, vem o destino e brinca comigo. Meu celular ontem acabou a bateria na rua e fiquei neurótica (o mundo resolve te ligar justamente nesses dias, não é?) Errado, ao chegar em casa, bem mais horas depois, vi que ninguém tinha me ligado, nem uma mensagenzinha. Humor negro, caros leitores, não sei se rio ou se choro.

sábado, 20 de junho de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 6

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band

-Nós somos a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Nós esperamos que vocês tenham curtido o show. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, nós sentimos muito, mas é hora de ir.
Uma voz rouca ressoa por entre os gritos e aplausos numa espécie de circo armado no meio do nada à uma da manhã. O rapaz de cabelos claros sorri para a platéia como normalmente nunca sorriria para ninguém que conhecesse, estava em casa, o palco era sua casa e seus parentes e amigos aqueles rostos distorcidos que sabia que nunca mais os veriam.
-Billy, mais uma então?
Molly pergunta já alta e de cabelos bagunçados segurando o microfone como se fosse cair. Billy acena com a cabeça e vira-se para trás para avisar aos outros componentes da banda sobre saideira. -Acredito que vocês gostariam de saber que o cantor que vai cantar uma canção quer que vocês todos cantem juntos! Então deixem-me apresentar a vocês, o primeiro e único Billy Shears!
Molly levanta as mãos e se posta ao lado do guitarrista que ajeitava o microfone.
-Se acomodem e deixem a noite passar. Um, dois, três, quatro!
A música volta a tocar na lona e o público a se agitar sobre a grama úmida. Diversos rostos os olhavam com um fascínio compreensível, eram de fato a Sgt. Peppers! Fazia exatos vinte anos desde o nascimento da banda, tinha nascido junto com cada um dos quatro integrantes, podiam ter passado por algumas oscilações com o passar dos anos, mas sempre garantiam de levantar um sorriso onde quer que fosse.
-É maravilhoso estar aqui, é com certeza uma alegria. Vocês são um público adorável.
Walrus agradece reverenciando o público com a cabeça após a música ter-se encerrado. Realmente estava cheio, era de se esperar, estavam ainda no Reino Unido, ele pensa tentando imaginar como seria a aceitação nos outros países.
-Eu realmente não quero parar o show. Gostaríamos de levá-los para casa conosco, adoraríamos levá-los para casa. Só que não vai caber, vai?
Molly indaga ao baterista sóbrio demais para o grau de loucura dela e volta-se para o público dando de ombros após ser ignorada acenando com o microfone na mão causando interferência em toda lona. -Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band!
O público vai à loucura com os integrantes andrógenos, esquisitos e fascinantes que compunham a banda. A vocalista de cabelos rosa claro saía do palco escoltada pelo baixista engraçadinho enquanto o guitarrista recebia calçinhas e cartas de fãs apaixonadas pelo baterista misterioso também. A noite tinha sido boa, ótimo começo para a banda que havia saído pela estrada há poucos dias atrás.
Estavam agora na primeira cidade do percurso, Snowdonia, no País de Gales, área destino de andarilhos de todo o mundo. Frio apesar de ser primavera, mas quente pelo uísque que rodava em copos pela mesa de armar.
-Caramba, estou cansado.
Walrus esfrega seus cabelos ruivos e sujos encarando a noite estrelada com olhos de ressaca.
-Foi um ótimo show. Começamos bem galera.
-Ela nunca fica cansada?
O baterista sorri notando que Molly ainda tinha forças para rodopiar naquele ônibus amarelo parado perto do National Park. Billy levanta as sobrancelhas indicando com os olhos semicerrados um eloquente: “não, nunca”.
-Já temos planos para amanhã? Nós já vamos embora? Queria ir antes à Llanberis ou quem sabe à Betws-y-Coed, dizem que fazem festas que duram três dias!
-Desacelera Molly, são três da manhã.
-Que viagem esse dia! Ainda posso ver as pessoas, nunca tinha visto um show nosso com tanta gente.
-Estamos num festival para amadores, aposto que a maioria deles eram outras bandas que iam tocar lá.
-O cowboy e o seu pessimismo...
Molly encara os olhos azuis do rapaz com um cigarro nos lábios e completa:
-A felicidade é uma arma morna, meu rapaz, uma arma morna.
O garoto sorri irônico olhando para baixo e jogando a gimba do cigarro no chão, ele nota a fumaça ainda serpentear pelo ar enquanto em seu peito doía alguma coisa.
-“Arma morna”, não é?
-Sim.
Ela diz sorrindo.
Toc-toc-toc.
-Quem será?
Walrus se levanta do sofá de plástico verde e se encaminha até a porta sanfonada e enferrujada. Devido ao vidro fosco e roto ele não consegue identificar quem era, mas pôde notar de início que era baixo e...
-Não acredito.
Billy consegue dizer após aquela pessoa abraçar Walrus e ser atacada quando Molly chega para também abraçá-la.
-O que foi?
O cowboy pergunta para a cara inexpressiva que Billy fazia ao olhar para a garota de cabelos lisos e claros que sorria junto com os dois amigos.
-Prudence.
-Prudence! O que faz aqui, pequena? Nossa! Como chegou até aqui?
-Está tudo bem?
-Estou, estou ótima. Cheguei aqui de carona, foi bem fácil. Conheci um senhor num caminhão que...
-O que veio fazer aqui?
-Billy!
A menina encara o rapaz com os olhos brilhando de emoção. Billy Shears... Billy, ela pensa sentindo uma pequena vontade de chorar de tanta felicidade. Estava enfim junto com ele. Billy...
-Fala!
-Cara, não precisa gritar, Pru acabou de chegar.
-Vim aqui para ficar junto com você.
-Ai meu Deus...
Billy revira os olhos dando as costas para ela que de tão emocionada apertava as mãos contra o coração.
-Vim ficar com você, com os meus amigos, com a banda.
-Ótimo!
-Legal!
-Por mim tudo bem.
-Não.
Prudence volta-se para o rapaz deitado no sofá com ar de superior fumando um cigarro enquanto ignorava totalmente a presença dela ali.
-Porque não?
-Já disse que não.
-Por quê?
-Você não faz parte da banda, e já chega de tietes.
-Eu fiz as músicas que cantaram hoje.
-Nisso ela tem razão.
Walrus intervêm piscando para Prudence e a ajudando a colocar suas coisas na parte das malas.
-Grande coisa, somente as letras e vale lembrar que algumas delas são minhas.
-Mas são.
Prudence deixa a cargo de Molly e Walrus suas coisas enquanto corre ao encontro do metido à astro de olhos fechados.
-Billy, senti saudades. Vim aqui por você, quero dizer, por vocês.
A menina se aproxima das mãos dele quando ele brutalmente as retira e se levanta com raiva e impaciência.
-Faça o que quiser.
Dito isto ele sai do ônibus parando uns três metros à frente para observar o precipício mergulhado em trevas.
-Não liga para ele Pru. Sabe que o humor de Billy não é muito convidativo.
-Tudo bem. Ela sorri. –Ele ainda está chateado?... Por causa do fim do namoro eu digo...
-Que nada! Billy Shears é uma esfinge egoísta e indiferente. Não falou do assunto uma só vez, mas também não ficou sofrendo enquanto se deixava assediar pelas menininhas de umas quatro horas atrás.
Walrus comenta levantando um lençol para ela dormir enquanto Prudence deixava escapar um sorriso aliviado.
-Que cabeça a minha!
Molly segura Prudence pelo pulso a arrastando até o rapaz quieto de chapéu de cowboy e baquetas na mão.
-Vocês não chegaram a se conhecer não, não é?
-Não, acho que não.
Os dois respondem quase em uníssono.
-Querido, esta é nossa querida Prudence. Ela é lá de Liverpool também e faz parte da banda desde sempre.
As duas sorriem.
-Prudence compõe as letras enquanto Billy põe as melodias em cima.
-Oi.
-Prazer.

-E esse é o nosso cowboy do Dakota, baterista há um mês na banda e amigo há anos. Pru esse é Dan.

regurgitofage comigo?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"esqueça as reticências, elas não exprimem emoção como você imagina".

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2008
Queridos pais,
acho que, depois dessa carta, não vão querer mais que eu chame vocês de "queridos". Primeiramente, não chora, mãe. Depois, pai... Você algum dia ainda vai me entender. E por último... Saibam que minha decisão foi culpa de vocês.
Pois é... Lembram que falavam que eu não lia, que eu não me interessava pela cultura "normal" e só ligava para o "barulho" da minha banda? Enfim... Minha decisão se pautou nessas críticas e no fatídico dia em que me deram o livro "On The Road", de Jack Kerouac, para, finalmente, endireitarem seu eterno filhinho de dezessete anos e seguir uma carreira como letras, jornalismo ou toda essa palhaçada que envolvesse palavras na qual vocês trabalham.
Fiz o que me pediram, li o livro todo, fiz uma resenha, pesquisei sobre o autor, fiz as malas, pus o pé na estrada e agora estou aqui, num lugar com terra, árvores, pessoas com sotaque, no interior de Minas Gerais. Não que essas três últimas especificações tenham sido impostas por vocês, claro...
Agora entendam o meu lado: como vocês acham que é viver numa casa onde seu irmão mais velho está fazendo intercâmbio universitário na Sorbonne e irmã mais nova está num colégio para super gênios? Eu sou a ovelha negra da família, não sou como vocês, que conseguem seguir uma carreira de eventos premeditados, não... Prefiro usar as palavras de que tanto gostam para informar as pessoas, para denunciar de outra forma as mazelas que atingem esse mundo. É esse o meu "barulho".
Desculpe se desapontei vocês, sei que devem estar quase carecas de preocupação, mas por favor entendam o meu caso. Bob Dylan ficou rico... Só estou fazendo o que gosto, vou viajar com a banda e não sei quando eu volto, mas vou mantê-los informados. Mande um beijo para todos. Amo muito vocês e... Se serve de consolo, eu passei para a UFRJ.
Com muito amor,
seu ursinho rock 'n' roll.

ps: Essa redação é outra que fiz ano passado, o tema é mais ou menos sobre uma carta explicando para seus pais porque vai seguir determinada carreira independente da opinião deles.
ps2: Ela está corrigida assim como o Caldas me devolveu, apenas continuei com as reticências para verem que seu comentário que dá título ao post tem fundamento.
ps3: To em hiato criativo hoje e a semana toda para falar a verdade, Rocky Raccoon já tinha feito antes... Publiquei esta redação, pois além de gostar dela, ela também tem a ver com a história que estou escrevendo. (se você ainda não percebeu já dei uma dica ;)
ps4: Espero que tenham gostado.
ps5: E ah! Quem leu aquele post da primeira redação que coloquei aqui vai entender: tirei 8,5 nessa.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 5

Rocky Raccoon

Agora em algum lugar nos morros das montanhas negras do Dakota...

Um rapaz desce por uma ruela de terra com suas botas de cowboy e um cigarro no canto da boca em direção a cidade mais abaixo. Sua expressão ninguém podia lhe falar, estava impassível e ao mesmo tempo sorrindo lembrando-se de fatos que normalmente o faria chorar. Magil... Ele remoia em sua cabeça lembrando que ela tinha ido embora. Tinha fugido com outro sujeito... Rocky coça os olhos com vergonha por estar chorando de novo apesar de estar sozinho nas montanhas. .
-Eu vou pegar aquele cara.
Rocky Raccoon diz olhando para frente e se deparando com a pequena cidade que se materializava aos seus olhos.
Não tinha gostado daquilo. Nem um pouco. Magil era seu amor, sua mulher e de uma hora para a outra ela tinha fugido com outro cara. Isso tinha o desestabilizado, tinha o acertado em cheio, morria por dentro e queria levar alguém junto.
Ele chega à cidade antes do pôr-do-sol se hospedando logo após num saloon local decadente. Rocky entra em seu quarto e deita-se na cama com muita força como se seu coração pesasse toneladas, ele fecha os olhos identificando os pequenos barulhos que o rodeava: os carros na rua, a mosca que zumbia tentando atravessar o vidro da janela, o ventilador que rodava calmamente na velocidade mínima e os murmúrios apaixonados de um casal do quarto ao lado do seu. O rapaz tira do bolso de sua camisa uma pequena bíblia de capa de couro e a observa com carinho como se estivesse pedindo desculpas, ele a gira diversas vezes notando cada detalhe que tinha, pega o cigarro que estava fumando da boca e o apaga na capa do livrinho preto. Era agora ou nunca, Deus e o mundo podiam lhe julgar, mas o que realmente importava para si naquele momento era a arma no cós de seu jeans e aqueles risinhos odiosos vindos do outro lado da parede que o deixavam nauseado.
Iria atirar nas pernas do seu rival para que nunca mais pudesse fugir com a mulher dos outros novamente. Rocky retira a arma da cintura e a examina com estranha fascinação. Ao que parece, ele pensa, seu rival tinha quebrado seus sonhos ao roubar a garota que ele gostava, que realmente gostava. Magil... Que se chamava de Lil, mas todos a conheciam por Nancy.
-Daniel. Dan, hun?
Rocky sorri maliciosamente enquanto arrastava sua cabeça para trás até ver a parede que os dividia.
Do outro lado dela, um rapaz e uma moça de cabelos cacheados estavam deitados na cama de casal e se olhavam ternamente enquanto profanavam juras que não sabiam ao certo se poderiam concretizar. O amor deles era real, mas a situação fantasiosa demais, tanta que os consumia de tal forma fazendo-os de refém em suas próprias vidas.
De repente num estrondo a porta do quarto cai para frente fazendo o casal se levantar depressa. Surge então Rocky Raccoon de arma em punho e sorriso malicioso nos lábios dizendo:
-Danny boy, é hora de mostrar as cartas.
Há um estouro de festim quando alguém cai para trás e um grito de mulher ressoa por todo o corredor do saloon. Rocky desmorona num canto gemendo de dor e colocando a mão no coração cheio de sangue. Então quer dizer que Dan sacara antes que ele?
-Lil... Você é a culpada.
Ele consegue dizer ainda olhando para o chão evitando o contato visual com a moça ajoelhada na cama e de mãos na boca para não gritar mais.
-Quando... Foi embora... Eu fiquei frio. Agora seu calor... Está com...
Rocky olha para Dan um pouco mais ao longe o encarando com uma pistola na mão e completa:
-Danny boy. Eu... Vou te pegar.
Dito isto, Rocky desmaia ali mesmo no canto.
É passado algum tempo até quando Rocky abriu seus olhos mais uma vez, o quarto todo cheirava a gim e álcool destilado, percebeu também que estava deitado numa mesa e que seus pés estavam dependurados e nus.
-Rocky, meu rapaz, você encontrou seu rival.
O doutor retira do bolso da camisa de Rocky a bíblia ensangüentada com uma bala cravejada.
-Tem alguém lá em cima que gosta muito de você, se não fosse essa bíblia o tiro seria mais profundo provavelmente atingindo o coração.
-É só um arranhão doutor... Estarei melhor... Assim que eu puder.
-Arranhão... Vocês cowboys se acham invencíveis não é?
O doutor brinca bebendo mais um gole de gim e o fazendo deitar de novo na mesa. Ele limpa a boca com as costas da mão e em seguida derrama o restante da garrafa no peito aberto de Rocky fazendo-o urrar de dor. Gritava por aqueles dois não estarem mais lá, gritava de raiva de si mesmo, gritava de ódio pelo cara que levara embora seu único amor, aquele que abriu seu peito o deixando para sangrar logo depois. Jurava vingança em confidência a si mesmo enquanto bebia o resto do gim aguentando os últimos pontos do doutor, jurou pegar e acertar as contas com aquele cara de uma vez por todas. De uma vez por todas.

Na calada da noite, Rocky se deixa cair na cama de seu quarto apesar de ainda sentir dor, retira sua camisa social branca e agora também vermelha a atirando em seguida no chão. Tinha um curativo enorme no peito esquerdo que doía mais do que sua dor interna. Vingança, ele pensa, enquanto acendia o último cigarro do maço e o colocando sob os lábios. Rocky solta a fumaça fazendo-a bater contra os vidros frios da janela do quarto quando seus olhos encontram um pequeno livro em cima da mesinha de canto. Realmente a bíblia não tinha deixado dúvida, alguém lá em cima iria ajudar na sua recuperação, ou alguém lá embaixo, ele reflete com um sorriso macabro nos lábios sob a lua cheia.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

porque assistir filmes antigos?

Eles são de velho oeste, romance, comédia, suspense, drama, terror e policial, eles são clássicos. Filmes em preto e branco, com maravilhosa expressão artística e glamour, histórias marcantes e fins clichês, produções artesanais para atores e atrizes que viraram história; esses são os filmes velhos e para alguns novos que vão sempre fazer parte no nosso top 10.
Uns podem pensar que filmes antigos são só para parecer mais Cult (nada a ver, é tão maneiro saber a música tema de Rocky Balboa quanto o de Cinema Paradiso), ou só veem porque a professora pediu (uma salva de palmas para ela) ou até mesmo porque queriam ver a gravação original de seu filme favorito (ok... isso é válido também), mas o cinema antigo é bem mais do que a Sunset Boulevard e filmes erroneamente taxados de “chatos”, é simplesmente o ponto inicial de todos os outros filmes que farão parte da sua vida.
Quem não se lembra do casal Bogart e Bergman em Casablanca e seus diálogos pra lá de Bagdá (aliás, Marrocos), ou a inesquecível encrenqueira Scarlett O’Hara vivida por Vivien Leigh em E o Vento Levou..., no mistério de Rosebud na trama de Cidadão Kane, ou até mesmo na coreografia mais interpretada do mundo em Cantando na Chuva? Detalhes que fazem qualquer cineastra babar de inveja (e eu me incluo nessa) por serem cenas, diálogos, detalhes, personagens de tão inesquecíveis que viraram clássicos. Clássicos! Igual a música clássica! Realmente são filmes que podem se achar. (rs)
Lições são tiradas como em A Felicidade não se Compra que mostra o que realmente importa é o que está por dentro (chorei bicas), te assustam de uma forma genial e psicótica como em Psicose (sério, o clímax não é o chuveiro, vai por mim), te fazem ficar sensibilizados como em Luzes da Cidade (Chaplin nos dá um show de gentileza e sensibilidade) e até nos fazem rir como em Quanto mais quente melhor onde a hilariante comédia consegue ser completa do início ao fim (esse filme está no meu top 10, se eu tivesse um, acho muito difícil fazer).
São rostos inesquecíveis emprestando atuações memoráveis a personagens históricos como Marilyn imortalizando seu vestido branco esvoaçante em Nova York, Audrey ditando moda com seus tubinhos pretos, James Dean dando foco a Juventude Transviada de sua época, Brando mistificando sua figura em personagens como em O Selvagem ou talvez do outro lado do Atlântico, Brigite Bardot atuando numa história genial com todo o glamour que só os anos 50 podem oferecer.
São diversos títulos, atores, diretores, roteiristas que poderia dissertar aqui, mas me faltariam palavras para adjetivar tramas tão bem boladas, rostos que agora enfeitam bottons ou personagens de frase feita que são aulas de auto ajuda. São trilhas famosas que nem sabemos o nome ("As Time Goes By"), são duelos de apenas olhar (como no maravilhoso Era uma vez no Oeste), são figuras dignas de poder e respeito até mesmo por você espectador (Marlon Brando em O Poderoso Chefão), é a loucura generalizada altamente eloquente (como em A Laranja Mecânica), são os “Oh!Que bárbaro!” no final da história (como no magnífico desfecho de Crepúsculo dos Deuses) e os choros por solidariedade como em O Garoto ou Tarde demais para esquecer.
O cinema é uma arte democrática, respeito quem gosta de American Pie ou Godard, não importa se se identificou com o besteirol de um ou a complexidade do outro, o que importa é que o cinema é feito catarse e se há verossimilhança para você, tudo bem, mas deixo aqui meu recado para abranger mais seu horizonte, quem sabe você que só gosta de filmes comerciais não se identifica com a ação e personagens fodas de Butch Cassidy e você também taxado de Cult, aprecie o entretenimento de uma comédia romântica clichê ou o combo masculino (sexo-velocidade-carros-mulheres) que também pode ser divertido. Pois como disse Truffaut: “Há mais harmonia nos filmes do que na vida. Não há engarrafamentos nem períodos de estagnação. Os filmes sempre continuam, como trens à noite”.

ps: Confesso que nunca entendi Fellini, e juro que já tentei... Sério.

terça-feira, 9 de junho de 2009

as letras por trás da imagem.


Paris, 1950.

Um rapaz de cabelos arrepiados e com um cigarro na mão sai de sua casa às cinco da manhã não sabendo bem o porque. Só tinha acordado e decidido que hoje iria andar: andar à ermo, andar para nenhum e todo lugar, andar até se cansar e fugir de um sonho que não parava de sonhar.
Em sua cabeça se misturavam nicotina e pensamentos involuntários, suas mãos coçavam pelo frio e calafrio que sentia ao andar, seus passos eram longos e demorados como se de propósito estivesse evitando a si próprio.
Engraçado, ele pensa, enquanto caminhava podia ver coisas que no seu dia-a-dia não mais notava. Engraçado...
Foi quando lhe apareceu uma estranha figura conhecida que lembrava de algum lugar, mas não sabia de onde. Conhecia seus olhos por outro olhar, sabia de seus segredos por terceiros, entendia seu sorriso de outro jeito... Quem era ela? "Ela" que sabia tanto e nada sobre ti, si e eles. Quem era ela que andava em sua direção olhando para o chão com sua mesma expressão perdida e consciente de seu caminho?
De repente eles se chocam sem se tocar, se olham através de olheiras por noites mal dormidas, surpreendem-se sem estarem surpresos, pois já se conheciam... Já se conheciam!
O casal em meio a confusão de pessoas pela rua respiram a essência um do outro meio a um sonho. Estavam sonhando.
Eram dispensáveis as apresentações, os nomes, os sorrisos e formalidades, eram apaixonados de longa data, de sonhos em sonhos estiveram vagando se auto procurando e achando a si próprios.
O momento pedia e então se beijaram concretizando a última parte de um sonho que nunca saiu suas cabeças, gravada assim em branco e preto, um sentimento tão profundo capaz de nunca ter sido feito.

ps: Caros lindos e provavelmente únicos leitores, devido a uma semaninha meio capciosa de provas, trabalhos de faculdade, feriado prologado e aniversário (\o/) vou estar meio ausente no blog... Queria avisar para não acharem que é mais um blog abandonado, só estou realmente sem tempo, mas vou fazer o possível para publicar algo entre estudos de Epicurismo e Semiose, pó dexá!
E ah! Mais uma vez queria agradecer o carinho e comentários construtivos que vem me dado inspiração para continuar em frente.

Beijinhos, os vejo em breve (assim espero)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

a última peça de Lego que faltava.

"Eu não entendo o abraço
quanto mais o seu significado
cheio de seus toques, gritos e mais abraços
seguido de beijos, de giros como um palhaço.
Não entendo o significado do sentir
o cheiro, de sentir na pele
a presença presente para sempre
no passado, passado à memória
de um futuro abraço.
E quando disfarço minha dúvida
em dezenas de outros traços
o abraço chega e me completa
de relance, se encaixa perfeitamente
no corpo ali presente só
à espera do poema novamente".

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 4

She Came Through The Bathroom Window

19:20 pm

De repente a porta da frente se abre, um casal que se agarrava e se beijava tropeça na mesinha de centro, trocam olhares risonhos e continuam a se amassar na sala escura. Os dois se abraçavam esbarrando em tudo pela casa até chegar o quarto do casal; retiram a roupa como se estivesse muito calor, se beijam tão ardentemente como se fosse a última vez, se deitam tão violentamente sobre a cama como se...
-Cheguei!

19:28 pm

-Ela entrou pela janela do banheiro, tenho certeza.
-Como assim "pela janela do banheiro"? Temos que ligar para a polícia, essa menina pode ser perigosa.
-Claro, ela ia nos assaltar armada como uma colher de prata. Que imaginação amor...
A mulher de olhos verdes encara incrédula seu marido que sorria despreocupado a cerca da invasão de sua casa.
-Você não sabe o quanto foi traumático ver uma menina que devia ter o quê? 20 anos, senão menos... Na minha cozinha, na minha casa, chupando o polegar com uma colher na mão e ainda por cima me olhando com aquele olhar vazio de drogada! Por favor! Como consegue ser tão imparcial quanto a isso?
O homem grisalho abraça sua mulher que estava tão perturbada que nem se lembra em retribuir o carinho. Ele a encara com os olhos e sorri segurando suas bochechas com pequenas rugas:
-Não estou imparcial, já disse que pode ser uma garota na qual eu conheço. Você não disse que era uma menina de mais ou menos 20 anos com cabelo pintado de rosa claro? Talvez seja a Molly.
-Molly? De onde conhece essa Molly? Pelo que eu saiba nosso círculo de amigos não frequentam esse tipo de...
A mulher frisa os olhos tentando achar uma palavra menos emblemática do que: problemática, doida ou criminosa.
-Estranha.
O marido sorri soltando-a aos poucos e indo em direção ao sofá, após sentar-se e beber um gole de conhaque e ele retoma seu raciocínio convincentemente arquitetado há cinco minutos:
-Lembra de quando eu trabalhava na polícia?
A mulher faz com que sim mexendo a cabeça e de braços cruzados ainda em suspeita de alguma coisa errada naquela história toda.
-Então, não queria expor a menina, mas...
O homem a observa com pesar e suspira lentamente antes tomar outro gole da bebida:
-Ela, sabe, tem problemas.
-Problemas?
-Sim, problemas seríssimos de loucura. Diziam que ficava com aquela expressão vazia por dentro, pois se indagava sobre a vida remando às margens de sua própria lagoa de lágrimas internas.
-Faça-me o favor! De onde você tirou essa frase feita barata?
-Amor, eu juro! Ela apareceu um dia por lá na delegacia porque roubava objetos brilhantes das casas das pessoas. E para falar a verdade, acho que foi por isso que pegou aquela colher, vai por mim.
Ele a olha levantando as sobrancelhas girando o dedo indicador ao lado da cabeça enquanto ela ainda o encarava desconfiada e ao mesmo tempo convencida.
-Será que ninguém nunca contou a ela sobre esses problemas? Será que ninguém nunca viu? Essa menina não devia ter sido levada para a delegacia e sim para o hospício! Onde já se viu entrar nas casas dos outros só para pegar objetos brilhantes...
-Com certeza.
O homem grisalho suspira aliviado tomando outro gole de conhaque vendo sua mulher passar a mão no queixo como se tentasse assimilar tudo o que tinha ocorrido. Estava dando tudo certo, ele pensa se escondendo atrás do copo imaginando o quanto tinha tido sorte naquela situação. Poderia por tudo a perder por causa daquela menina louca, ainda bem, ele reflete de novo, que está dando tudo certo.
-Molly... Molly... Molly! Ah! Agora eu me lembrei! Molly era o nome da menina que sua secretária falou que telefonava para você nos domingos!
O homem sem querer se engasga sem ao menos ter bebido.
-Achou que podia me enganar?
A esposa aponta para o marido com o dedo indicador como se de alguma forma aquilo o fizesse de vez falar a verdade. Seus olhos brilhavam e não sabia se estava sem ar por descobrir que seu marido tinha uma amante ou porque estava falando mais rápido do que o normal.
-Na verdade só foram duas vezes.

E ele se surpreende por ter dito a verdade arqueando as sobrancelhas sem querer.
-É isso, não é? Diga a verdade! Era essa tal de Molly que te telefonava aos domingos?
-Querida, tudo bem. Era ela que telefonava aos domingos para Monday. Mas pedia à minha secretária para não falar nada, pois eram só...
-Ah sim! Claro! Ela telefonava para mim também, só que nas terças!
-Estou te dizendo, só me telefonava para ameaçar dizendo que algum dia ainda iria vir aqui em casa para pegar objetos brilhantes.
-Sim... Viria aqui com aquela lingerie de cabaré cheia de lantejoulas e mais não sei o que?
-Ela dizia que sempre fora dançarina, por isso o do cabelo curtinho e pintado. Disse também que dançava em quinze clubes por dia.
-Ela te disse isso ontem? No domingo?
A mulher o desafia de braços cruzados vendo-o se levantar e tentar uma postura mais ereta para se defender.
-Mas é claro que não. Tudo o que eu sei é que ainda delira com perguntas de como pode sair de sua lagoa ou algo assim, embora ela imagine que eu saiba a resposta, mas bem, eu não poderia dizer, já que eu não sei o que se passa naquela mente insana!
-Isso aconteceu na época que deixou o departamento de polícia?
-Foi exatamente por esse motivo que larguei e arranjei um trabalho fixo onde ela não poderia mais nos importunar com perguntas aporéticas malucas e psicóticas. É uma boa menina, talvez achasse que eu poderia ser, quem sabe, seu segundo pai? Quem te desse a orientação que não teve.
-E embora ela faça ainda de tudo para colaborar contigo nesse quesito, não é?
De repente o sentimento que rondava a sala vira outro. Não é mais a cobrança e a desconfiança que emanava, mas sim a de falta e impotência que assombrava os olhos verdes da senhora que se sentava no sofá abraçando a si própria.
No momento que isso aconteceu, o marido pela primeira vez naquela noite se sentiu culpado. Tocara num ponto fraco entre os dois, o fato de não terem tido filhos sensibilizava sua mulher e o tornava adultero. Essa constatação o deixou mal. Ele a olha e se sente ainda pior. Aquela aventura só servira para despejar uma carência que nunca tinha percebido. O modo como tratava Molly muitas vezes ia mais para o lado paternal do que emocional de homem e mulher, por isso tanta a diferença de idade entre eles. Podia ser sua filha.
-Me desculpe por não ter te contado. Eu sempre quis, mas não consegui. Desculpe.
Ele a puxa para um abraço e fecha os olhos.
-Tudo bem...
Seus olhares se encontram e mais uma vez a paz reina entre eles. A chuva chamada Molly podia ter trazido trovões, mudanças de correnteza e inundações, mas que ao partir conectara os dois através de um arco-íris.
-Ela não roubou nada não, não é?
A mulher sorri com sarcasmo olhando novamente para o banheiro com a luz ligada.
-Ela furta, mas se recusa a roubar. Pelo menos foi o que me disse da última vez que nos vimos quando... Furtou sua colher.

19:49 pm

Abaixo da janela do banheiro, um tufo de cabelo rosa claro vibrava emanando um barulho quase imperceptível. A menina de apenas sutiã verde e um short curto com lantejoulas azuis ria enquanto lambia a colher de prata com ainda resquícios de chocolate. Quer dizer então que não roubava?... Realmente não se enganara com o papai ali, como sempre ele era muito gentil. Eles eram de fato uma família feliz, pensou. Que bom que pode ajudar a fazer eles se entenderem.
A menina então joga a blusa no ombro e caminha pela rua deserta enquanto assobiava uma música sem letra definida.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

happy birthday to you...

"Viver sozinha é como estar numa festa onde ninguém olha para ti".
Marilyn Monroe

ps: Frase do dia, aniversariante do dia, sentimento do dia...

paranóicos de todos os países, uni-vos!

Sabe uma coisa que me irrita? O capitalismo. Não que eu seja comunista ou uma daquelas pessoas que estudam numa faculdade particular e organizam greves só porque é cool. (filho... ¬¬)
Não... Mas é que este sistema está tão enraizado em nós que não conseguimos nos libertar e fazer uma revolução. Outra coisa, quando falam de “revolução” vem logo um dizendo que “ó, lá vai o rebelde sem causa”, e aí é que está! Pelo que lutamos nos dias de hoje? O capitalismo nos seda de tal forma que no momento que pensamos em revolução, ele atua dizendo: “Ah... Não quer mais essa ditadura do capital? Então tá... Eu levo embora o perfume Yves Saint Laurent, o último filme do Sean Penn e o cd do Sgt. Peppers... Ok então”.
Viu? É difícil... Poderá adaptar isso ao último vídeo game lançado, ao programa de TV que gosta ou a sobremesa que custa mais que um PF normal. Há sempre a praga do capetalismo nos induzindo e manipulando por coisas fúteis e desnecessariamente necessárias.
Como se libertar? Eis a questão. Há pontos positivos e negativos, é claro: a igualdade no comunismo e conseqüente falta de identidade, a identidade no capitalismo e conseqüente desigualdade... Putz. O que escolher? Não é justo enquanto há um proletariado que trabalha 12 horas por dia e não ganha nem um oitavo de um patrão que trabalha apenas quatro. O poder está nas mãos da infra-estrutura que manipula a superestrutura agindo como bem quer ao novo filho de Rosemary: o mercado.
O que eu fiz então? Bem, vou fazer cinema! Mas não, espere... Vou morrer de fome porque o país quase não investe nessa área e também há a internet que se baixam os filmes... Já sei! Vou ser escritora! Não... Detesto o fato dos livros serem caros e cada vez menos gente lê... Ah! Publicitária! Putz... Detesto aquele tipo de publicidade “compro ouro” que só faz sujar mais as ruas. Mas há os empregos.
Droga. ¬¬’’
A grande parada é não se deixar alienar ao sistema; segui-lo só se para você for o ideal de ideal; ir de encontro se não concordar e tiver uma alternativa mais... Quem sabe, justa (?) (é? para quem?...); ser malandro e enganá-lo (reciclando o próprio produto capitalista, consumindo-o indiretamente, se renovando e renovando esse planeta) ou estúpido e se enganar (trazendo mais entulho, bagulho e barulho a essa loucura chamada mundo).
Liberdade e justiça se fazem em palavras nas bocas de seus interlocutores assim como suas idéias favorecem as próprias. Se realmente queremos ver se a pessoa é aquilo mesmo, dê poder a ela.
É hipócrita julgar, mal tenho poder sobre minha própria vida e a pequena parcela que tenho ainda sim faço merda.
Não sei como devo terminar este texto, na verdade comecei a escrever porque não estava fazendo nada. Já dizia minha vó: “cabeça vazia é oficina do diabo” (bem... não tão vazia assim), demônio esse vermelho! Comuna! Vejam só que ironia capitalista essa heim... Repito que não sou comunista. (rs)

ps: Fiz esse texto numa tentativa de escrever duas laudas para Sociologia sobre como fazer a revolução nos dias de hoje. Acabou que não foi esse, na quinta-feira passada estava de bobeira e resolvi escrever enquanto esperava por uma consulta médica. Apresentei-lhes o meu humor de cinco dias atrás cheiro de gírias, emoticons, excessos e esquerdismo... É que eu me empolguei.