segunda-feira, 4 de maio de 2009

caixinha de surpresas.

Que histórias, lembranças, perigos e nostalgias uma simples caixa pode te dar? A cor amarelada já diz tudo, anos são guardados aí dentro cuidadosamente para abafar, guardar e enterrar certos sentimentos...
O cheiro de papelão e papel mofado é revigorante, é como se fosse um sebo de sua vida ali debaixo da cortina.
Uma metáfora até pode ser criada, caros leitores, a cada papel, ingresso, carta, foto, ninharia é como se fosse um extenso repertório de sua vida colocado ali estrategicamente para que as lembranças mais recentes fiquem na frente e as mais antigas atrás.
São tantos pequenos momentos que fazem a teoria de Demócrito dar certo. O lego que compõem cada parte da alma em uma só caixa.
Esqueci de avisar...
Hoje após estudar deixei um lápis cair perto da preteleira de livros e fui lá buscar. E então meus olhos encontraram essa caixa de lembranças que vos venho falar.
(rimou)
Há aqui o folheto do primeiro festival de curtas para celular que finalmente tive coragem de participar; o ingresso da peça de teatro que dormi; meu mapa astral; um desenho feito por um amigo; meu antigo diário de 2004, um outro ano dramatizado por mim na minha vida (basta ver as páginas arrancadas e rabiscos, às vezes eu nem acredito...); a foto de um garotinho com aids na África que recortei pois o que me tocou foi ver que sorria com as duas mãozinhas apoiadas nas bochechas enquanto o fundo todo era desesperador demais para haver um pingo de felicidade; "trabalhos de amores perdidos" que não veem ao caso agora comentar; a foto que guardei para criar uma egrégora e que no final das contas não deu em nada; um button do primeiro candidato a político que elegi e etc.
Se eu catalogar tudo que tem aqui vou fazer pelo menos três dormirem (quatro comigo).
Estava aqui folheando antigos diários, cartas e bilhetinhos de quando tinha 10, 11, 12 anos e percebi que a essência da pessoa em questão não muda quase nada. Tudo bem que eu era mais ingênua e infantil, mas agora vejo que os mesmos traumas, medos e âmago não mudaram. (paráfrase descarada) Continuo a ser aquela menina sentada no pátio da escola absorta em pensamentos se esquecendo do sinal tocando, o novo cenário talvez seria de uma estranha conhecida ouvindo MP3 no ônibus passando três estações de casa só porque não queria acordar.
Acordar... Às vezes acho que minha Matrix é bem mais atraente do que a minha realidade em si, talvez seja por isso que me sinto tão sozinha... Ainda não aprendi a levar alguém para visitar o meu verdadeiro "eu", o lugar onde de fato gosto de morar.
Realmente é um pouco louco e também pode parecer ingratidão com tudo de bom que tenho nessa vida (família, amigos, música, chocolate, viagens, banhos de chuva, faculdade), mas é ai que está, eu não reclamo, não. Pelo contrário, eu agradeço todo dia voltar para casa tranquila ouvindo Beatles ou comprar qualquer besteira que eu queira comprar. Acho que o problema sou eu. O ser humano é complicado mesmo, não sabe o que quer. Eu não sei o que eu quero... Acho que só algumas coisas de que não quero, e se bem que já é um começo, é mais uma razão na música do The Bravery para respirar. Uma jornada em busca daquilo que não faço idéia.
Emocionante.
Nostalgia leva a gente a divagar (mudei de assunto de novo), desenterrar antigos sentimentos e palavras caladas, mas que no final é bom. É reconfortante saber que VOCÊ existiu de fato para algo ou alguém, diversos álibis e testemunhas de coisas ruíns ou não que fazem parte de um amontoado de anos chamado vida.
Às vezes é difícil identificar o porque você respira, o porque está aqui ou qual é o seu propósito, mas há um estímulo que o ajuda a lembrar que não estamos aqui por acaso, basta abrir uma caixa de lembranças, seja ela física ou metafísica, para ver que se você não tivesse passado por aquele atalho naquele dia talvez aquele velhinho não teria conseguido atravessar a rua; se não tivesse tirado aquela foto, sua amiga talvez tivesse outro papel de parede na tela do computador ou até se não tivesse matado aula naquela segunda-feira talvez aquela pessoa que vagava à ermo pelas ruas não teria ouvido nenhuma palavra durante todo o dia.
A poesia de cada dia está presente nas coisas que achamos mais insignificantes, lotando um pedaço de papelão, causando risos, choros, vergonha, nostalgia... vida.
Se você só é de olhar o retrovisor para ver as pequenas estrelas que passaram por ti, se orgulhando de cada uma delas seguindo sempre em frente em direção ao oeste não deixando o dia morrer, sempre buscando cada vez mais luz e se empolgando com o que está por vir, parabéns...
Você vive.

4 comentários:

  1. caixinha de pandora!!!...e para ti...

    "aetas:Carpe Diem quam minimum credulapostero."

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  2. Cara, vou te dizer!
    Como você consegue passar bem o que sente.
    Lindo, Laís, lindo!

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  3. Evening.

    I genuinley enjoyed reading that, warmed my heart reading it as it must you going over your memories.

    thankyou for the words you left me they did clear the cloud.

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  4. Adorei o que você escreveu.

    Apesar de todas as tristezas, humilhações, aflições, medos, receios, o que temos de fazer é ser feliz. Porque, como o título da música do The Strokes diz, "You only live once". Mesmo com todas as coisas ruins, o que é preciso fazer é manter a cabeça erguida e enfrentar os problemas sem medo de sofrer.

    O passado revela que nós somos. Prender-se demais ao passado é um erro. O amanhã ainda existe. Como você disse no último parágrafo. A criança de ontem ainda está em nós hoje. O que é preciso fazer é não deixar que ela morra amanhã.

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