quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

into the wild.

Sonhos estranhos me fizeram acordar antes mesmo do despertador as seis horas da manha. Sonhos daquele tipo que de tao reais o fazem acordar cansado se perguntando o que esta se passando em sua mente enquanto o sono não deixa você se explicar em palavras. Na verdade nem teria precisado acordar tao cedo, porque hoje eu estou de folga e teria supostamente o dia todo para dormir nesse frio bom. Mas não quis... Hoje botei na cabeça que iria fazer um exercício de manha para sair desse meu sedentarismo cronico que só se baseia em acordar-trabalhar-comer-trabalhar-comer-dormir-acordar. Então... Cá estou eu aqui! Já explico...
Ok: peguei o meu caderno de praxe, uma caneta, o meu Ipod, coloquei o tênis para correr que comprei aqui, vesti o capuz do meu casaco Ralph Lauren porque ainda estava chuviscando um pouquinho e bati a porta do trailer atras de mim encarando um deserto frio e branco pelo fog, minha reação de imediato foi sorrir de lado, pois agora quem me acompanhava era It Means Nothing do Stereophonics embora a letra não tinha nada a ver com o momento em si...
Aonde eu iria? Comecei a andar rápido olhando para os lados pensando onde poderia chegar, eu poderia ir para a Redway a nordeste, ao parque a noroeste, ao final do RV a sudeste e... A floresta a sudoeste! Show! E la fui eu toda feliz correndo com fones no ouvido e capuz enquanto rasgava em vigas o fog que baixava sob a garoa rasa. O tempo, podiam dizer, que não estava dos melhores, mas eu diria que foi perfeito! Estava me sentindo tao livre ali sozinha, as batidas da musica combinavam tanto com os meus passos e a vista era tao bonita que não podiam ser desperdiçadas por uma cama quentinha que substitui. Só fui correndo... E inconscientemente sorrindo me achando uma sortuda e agradecendo a Deus por cada pedrinha que eu passava ao largo.
Enquanto corria pelo caminho entre as arvores me espantava o quanto elas eram bonitas, bonitas e tristes como o inverno que as engolia, umas secas e outras com poucas folhas, caídas e úmidas como o tempo, em silencio só escutando a garota e o rio que corriam ao seu lado. Um ''cemitério de arvores'' pensei logo de cara quando as vi ali sozinhas, não podendo sair de seus espaços apenas se limitando a ver as coisas passarem por elas sem dar muita atenção. Foi ai que eu parei de correr. Meu peito ardia pelo ar rarefeito e frio que havia entrado nele e eu nem percebido, olhei ao meu redor e só vi nevoa branca... ''To no meio de uma nuvem'' eu pensei enquanto bufava agora em ritmo mais lento e batendo os dentes pelo frio. Caminhei saindo um pouco da trilha apenas para chegar mais perto de uma arvore que devia estar mil anos la... Quando um devaneio me veio me fazendo criar uma teoria que ficara guardada entre a minha mao e seu caule frio. Talvez... Talvez tenhamos essa ''coisa'' com a natureza porque... Ela esta sempre la. Nos humanos que mudamos com o tempo, mas a natureza e sempre A natureza. Talvez tenhamos nos encontrado em outras vidas e seja por isso que nossa alma fica tao feliz no meio disso tudo! Velhos conhecidos.
Continuei o passeio agora caminhando sobre as folhas secas notando que agora não mais garoava, olhei para cima e vi um arco de galhos e folhas que me acolhiam num túnel não permitindo a agua passar apesar de suas limitações devido a estação. Não consegui evitar um ''obrigada'' em voz alta para aquilo que me protegia, e antes mesmo do ''genezinho'' ruim humano que não nos deixar soltar quando uma coisa dessas acontece, tipo a maça proibida do Éden sabem? Então, cantei. Cantei mesmo e em voz alta a musica Quelqu'un m'a dit parecendo uma Chapeuzinho Cinza no meio da floresta sozinha. Hahahahhahahahaha
Depois de caminhar mais um pouco apreciando a paisagem de campos verdes muitos parecidos com os de Minas Gerais a trilha acaba. ''Ok''... Eu pensei, ''ou eu volto ou eu vou me adentrar nesse mato aqui ate chegar ao rio''. Hum... Tempo... ''Porta numero dois!'' Eu la sou garota de deixar passar beleza e liberdade como essa? Eu to aqui sozinha, esse tempo e meu e eu vou aproveitar! Nada de mal pode me acontecer aqui, ao mesmo tempo que e perigoso ninguém saber que eu estou aqui, e seguro por eu estar aqui ''sozinha'' comigo, com isso tudo, na natureza selvagem. Afinal que maniaco acorda as seis da manha para pegar uma garotinha inocente aqui como eu no meio da floresta?? (…) Nê?
A paisagem do rio correndo em seu silencio uníssono com suas arvores estáticas e serenas e perturbada pela visão de uma garota correndo em suas pedras rindo de sei la o que. Ela percorre suas margens acompanhando a correnteza verde-agua parando em seguida na borda apenas porque estava com um tênis novo de meras duas semanas. Tinha vontade de continuar indo com o rio, indo naquela calmaria abrupta devido a chuva na noite passada, indo ate la na curva que não sabia o que e que vinha. A garota se sentou e esta agora aqui com uma caneta na mão e um caderno sobre os joelhos olhando o horizonte com bordas de pinheiros e teto branco. Sim... Vos falo no meio do nada e do tudo.
Não se preocupem... Se lerem este texto no blog e a prova concreta que estou viva ate porque alguem teria que transcreve-las, não e? O máximo que pode acontecer aqui comigo e aparecer um urso ou um lobo, mas... Amm... Depois de me ver aqui sozinha e toda a mata que me cerca com quase três graus de miopia coisa que dificultaria muito ver algo se movimentando no verde prefiro não pensar nisso agora. Depois eu vejo o que eu faco. Ou... A ''Blair''. Hahahahahahhahaha ''Blair'' e um toco de arvore que tem a uns passos daqui que sobre sua madeira tem uma pilha de pedras de todas as cores e tamanhos empilhadas estrategicamente assim como no filme... Ai... Vocês acreditam que isso me assusta mais do que o urso? Ok... Não pense nisso, não pense nisso. Que idiotice. Isso não existe... (…) Nê?
O som do silencio e escutar a sua própria respiração, e escutar o barulho do rio do lado esquerdo e cachoeirinha a direita, e escutar o barulho das arvores batendo umas nas outras, e escutar as batidas do seu coração, e de alguma forma pela primeira vez verdadeiramente se sentir não mais Na natureza, mas A natureza. Engraçado que a gente se esquece que somos natureza também, fazemos questão de colocar a barreira e dividir duas vidas que como essas Redwoods aqui de oitocentos anos que compartilharam vidas e vidas.
Droga... A chuva apertou e uma de suas gotas acabou de manchar o ''ok'' ali na linha de cima. Gente... Ta chovendo bastante agora. Agora literalmente a natureza vai me engolir. Provavelmente nunca mais virei aqui sozinha e terei essa experiencia de novo, provavelmente ninguém que eu conheça vá fazer tal passeio também por aqui e eu acho que e isso que torna o momento tao único e especial mesmo debaixo de chuva e frio... O simples fato de eu ter que fotografar com os olhos tudo isso que no momento e meu. Só meu, meu e desse algo que as colocou no meu caminho, obrigada. To em casa.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

o novo cenário.

E a cena se repete mais uma vez... A visão de uma garota meio sentada meio deitada escrevendo num caderno com uma caneta coisas que passam em sua cabeça enquanto escuta musica em seu MP3 na sua casa... A cena a primeira vista pode ser igual a muitas outras que este blog testemunhou, mas apesar de tudo ser igual, tudo esta diferente.
A garota e a mesma, mas não e; seu cabelo e o mesmo, mas não e; sua perna cruzada e a mesma, mas não e; ate mesmo a sua tatuagem na mão que escreve estas palavras e a mesma, mas acreditem ou não... Não e.
O caderno que escrevo foi comprado na véspera da viagem, afinal como iria viajar e morar fora durante um tempo e não ter onde escrever tudo o que se passa na minha cabeça? Não e mais um caderno qualquer... E o caderno desta temporada dormindo fora de casa, e o caderno que começou como uma tentativa falha de se criar um diário e acabou se tornando o intermediário entre mim e o blog coitado que não atualizo há tempos.
A caneta que uso não e mais as um milhão de Bic's que tem la em casa que vão falhando progressivamente a medida que a escrita vai se aprofundando, a tinta preta que agora serpenteia em horizontal este caderno vem de uma caneta promocional de uma loja da cidadezinha em que vivo onde tudo tem o tema de maconha. Sim... Caros e queridos leitores lhes apresento a Hemp Conection, a primeira loja nos Estados Unidos a... Como posso dizer... ''Disseminar'' a cultura marijuana por assim dizer de cuecas com maconhinhas desenhadas a livrinhos de como cuidar do seu jardim, se e que vocês me entendem.
Os Beatles de praxe foram substituídos temporariamente por Acoustic Vibration Appreciation Society, uma banda progressiva-folk-country-rock-experimental encontrada num site por um cara canadense daqui que carinhosamente apelidamos de ''maluco'': o tal que me deu biscoitinhos ''feitos em casa'' no terceiro dia meu aqui. O.o''
Ok... O MP3 não e mais o meu celular Nokia (amado) de singelos 1Gb de memoria, mas sim o meu (novo) Ipod (amado 2x) de 160Gb dos quais não enchi nem 1/10 sendo que coloquei todas, sim, TODAS as minhas musicas mais uns 4Gb de uma amiga argentina daqui... E de novo: O.o''!
A casa que escrevo não tem o meu quadro de fotos 2 por 1 assim que olho para a direita quando estou deitada na cama, não tem o cheiro do incenso de sândalo que queima embaixo do buraco de ar condicionado sem ar condicionado, não tem aquela luz característica das duas lampadas uma quente e a outra fria no meu ventilador branco, não tem o barulho da TV ligada na Oprah que a minha mãe adora ver.
Minha casa, meu quarto, minhas coisas. Minhas coisas aqui se resumem a um armário abarrotado de roupas e casacos, o lado direito de uma cama Queen e a segunda prateleira da geladeira. Meu quarto se resume a um quadrado onde dou sete passos e já estou em outro comodo. Minha casa... Se resume num trailer. The most beautiful trailer of all RV Park actually. =P
A mesma cena... Cenário diferente... Mesmo mordiscar a ponta da caneta, mesmo sorriso ao olhar pela janela e ver algo sincronizar com a musica que ouço, mesma tatuagem na mão que escreve só que agora um pouco machucada devido ao trabalho.
Nos atualizamos todos os dias, a cada topada no dedinho mindinho, a cada 6.7 em Estatística, a cada frustração e exito, a cada viagem feita e como se renovar, se tornar uma versão 2.0 de você mesmo, uma versão atualizada com um anti-vírus com melhor faro para as tretas da vida, com um histórico maior do que veio, com novas cores e layout, pois ainda fazer algo no cabelo... Hum, quem sabe?
São novas fotos para o álbum de família, e um novo capitulo para a sua enciclopédia, e ate uma versão internacional e chique bilíngue! Hahahhahahaha Mudar e bom, não, mudar não, mas sim renovar, renovar as energias, renovar o ar que você respira, renovar as suas roupas (^^), renovar seus machucados, renovar a si mesmo se atualizando com cada topada de dedinho mindinho...
E como crescer a cada dia que passa, pois tudo e aprendizado, tudo e novo como já dizia os livros de filosofia que ''ser um filosofo e ter a capacidade de se surpreender com as coisas'', nunca vou me esquecer desta máxima, ser filosofo de você mesmo e aprender com cada gotinha de chuva na volta do banho, com a velocidade do rio, com o quanto você aguenta trabalhando em coisas que nunca fez na vida, com o quanto você se mostrou forte em momentos que antes achava não ser, o quanto amadureceu, o quanto aprendeu.
Porque a vida e isso mesmo: como ''uma caixinha de bombons'' segundo Forrest Gump, como ver através do vidro de um avião, as ''escolhas'' segundo a minha mãe, como sorrir diante um novo obstaculo, uma parede branca na qual você pode ir esculpindo de todas as cores e objetos que quiser ate conseguir passar por cima e saltar para o próximo dos muitos outros que virão.