domingo, 24 de maio de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 1

She's Leaving Home

Era uma quarta-feira às cinco horas da manhã quando o dia começou a clarear numa vila tradicional da Inglaterra, nenhuma das casas elegantes havia ainda acordado, o céu clareava tímido por entre as montanhas não imaginando o que acontecia ali embaixo.
Silenciosamente fechando a porta de seu quarto, uma menina de cabelos claros frisa os olhos castanhos percebendo que havia feito mais barulho do que imaginava. Ela então apóia um pedaço de papel na parede e escreve as seguintes palavras: "Eu amo vocês, sabem que sim. Mas têm que entender que preciso ir, preciso me encontrar, preciso me seguir. Desculpe por ser tão breve, mas é que tenho um compromisso agora cedo, pois vivi toda uma vida sozinha. Espero que me perdoem. Tchau, tchau". Após escrever e tampar a caneta com os lábios, a menina fica um pouco pensativa antes de continuar. Queria falar, explicar mais coisas do que cabiam ali naquele pedaço de papel, mas seus motivos ultrapassavam palavras...
Ela então caminha em pequenos passos pelo corredor luxuoso de sua casa até chegar a uma porta no final dele, em seguida ela gira a maçaneta com muito cuidado e observa dois corpos sonhando numa cama de casal em frente a janela. Num pequeno movimento, ela coloca a carta por cima do hobbie de sua mãe e fecha a porta sorrindo.
Ela desce as escadas até a cozinha como se fosse um ladrão, alternando suas pernas para que não fizesse barulho e ao chegar lá, enxuga seus olhos com um lenço e dá uma última olhada naquilo que denominou de casa durante 18 anos de sua vida, silenciosamente gira a chave da porta dos fundos, dá um passo para fora e... Liberdade.
Após mais algumas horas, o despertador toca na casa 112 acordando uma mulher de meia idade com os mesmos traços da menina de alguns parágrafos a cima, só que com as mudanças do tempo bem mais visíveis. Ela, ainda de olhos fechados, veste o seu hobbie que estava por cima da penteadeira quando nota algo cair no chão. Ela então se agacha e pega o pequeno pedaço de papel branco jogado no carpete. Como ainda estava um pouco escuro devido as cortinas fechadas, a mãe sai de seu quarto em pequenos passos até o topo da escada para que pudesse ler o bilhete sem que precisasse acordar seu marido que ainda roncava.
Ao chegar à janela perto da escada, uma simples lida nas palavras chaves foram suficientes para que aquele par de olhos castanhos mareasse e seu corpo se esvaísse quase tocando o chão. Com um choro vindo de longe, um senhor de meia idade se levanta apressado da cama e vai ao encontro da mulher que chorava com uma carta nas mãos.
-Papai... Nosso bebê... Se foi.
Ela diz com a voz embargada enquanto era amparada pelo marido.
-Porque ela nos tratou tão impensadamente... Como ela pôde fazer isso comigo?
-Aqui diz que ela sempre viveu uma vida sozinha... Nós demos o principal de nossas vidas. Nós nunca pensamos em nós mesmos. Nunca. Nós demos tudo o que o dinheiro podia comprar.
-O que faremos?
A mulher continuava a chorar compulsivamente segurando a carta molhada.
-No momento não podemos fazer nada. Nós vamos seguir com essa dificuldade até as coisas voltarem ao normal, quero dizer... Quando nosso bebê voltar para casa.
-O que fizemos de errado?
-Eu não sei meu amor. Mas tenho certeza que vamos conseguir transpor essas barreiras. Vai dar tudo certo.

Sexta-feira às nove da manhã,
ela já está bem longe...
A menina esperava na estação da cidade vizinha com apenas uma mala e uma mochila olhando para os dois lados vendo se seu meio de transporte para alcançar seu compromisso consigo mesma havia chegado. A cidade estava vazia apesar de ser sexta-feira e alguns minutos ali parada sozinha serviu para que rabiscasse uns três refrões no antebraço. Quando de repente um caminhão aparece buzinando atrás de si e a faz se levantar e erguer o polegar. Podia estar se arriscando indo daquele jeito maluco atrás de seu sonho, podia ter perdido o amor de seus pais para sempre, podia estar pegando uma carona com um homem que não conhecia para uma cidade que nem sabia ao menos o nome; podia estar sonhando, mas nunca tinha se divertido tanto como naquele momento. Era uma nova fase dizia para si mesma, algo que o dinheiro não podia comprar (felicidade e diversão), uma nova vida, iria de vez preencher o que sempre lhe foi negado, o que sempre lhe faltou por tantos anos de sua vida. Não se importava... Estava indo ao seu encontro, fora dos muros de casa.
tchau, tchau.

2 comentários:

  1. Ah.. então finalmente eu vou ler Magic Mistery Tour.

    Todos os capítulos vão ter nomes de músicas dos Beatles e enredo parecido?

    Que ótimo!

    Original

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