quinta-feira, 29 de abril de 2010

aquele dos sonhos.

Fuxicando meu blog às moscas, pois coitado, larguei de mão completamente meu quase filho de um ano esses últimos dias, reli coisas que escrevi em maio do ano passado e nossa! É realmente muito estranho ver como você pensava, se expressava, sentia e escrevia mudar de uma forma que talvez só você perceba em apenas um ano... Bem, quase um ano.
Estava me divertindo com antigas neuras, histórias que nunca mais escrevi, fatos que aconteceram, pessoas que sumiram e um post antigo com apenas um comentário de uma amiga... ''top 20 (dreams)''. Nem me lembrava dessa listinha que fiz só para dizer que no meu blog tinha uma listinha de alguma coisa apesar de eu ser péssima para listinhas, afinal até que não me acho indecisa e sim muito eclética por gostar de muitas coisas e ficar com peso na consciência depois por ter esquecido de colocar algo lá. Ok... Reli a listinha dos meus vinte maiores sonhos possíveis (?) e após cada palavrinha que era digerida por mim, me dei conta que alguma coisa tinha mudado... ''Eu já fiz isso'' foi a minha primeira reação.

1- Fazer uma viagem sozinha. (Bem, apesar de eu ter viajado com uma amiga, podemos considerar o meu intercâmbio para a Califórnia como uma ''viagem sozinha'', não é? Afinal minha mãe não tava lá para pagar aquele cardigã que eu adorei, nem meu pai para brigar comigo quando atravessei a rua sem olhar só por estar admirando as novas paisagens, nem a minha irmã para fazer bagunça comigo no avião à meia-noite enquanto todo mundo dormia.)
2- Sentar na primeira fileira da estréia do meu filme e ouvir aplausos no final. (Segunda coisa bizarra que quando li falei ''caraca''... Tem o Cel.U.Cine! Meu filmeco amador e sem jeito que foi selecionado para esse festival de curtas concorrendo com gente grande e ainda tendo a honra de escutar que o meu trabalho foi ''sensível, lírico, toda vez que vejo gosto mais''. Apesar do que eu não estava sentada na primeira fila, e... Meu filme não ganhou... Tudo bem, não queria mesmo.)
3- Ter uma música inspirada em mim. (Achei que eu iria morrer sem ter o prazer cinematográfico de ter uma música inspirada em mim, mas eu me enganei. Minha irmã sabe que eu adoro valsinhas, aquele estilo de música no violão calminho como na música de Julie Delpy em ''Antes do pôr-do-sol'', então fez uma musiquinha muito linda e que eu fiquei toda boba no dia. Sempre achei que seria como na minha história em que a mocinha descobre que a música é para ela quando o mocinho ao cantar um palco circular que gira, arranca todos os cabos sem querer enquanto cantava rodando em círculos olhando para os olhos dela lá parada, mas tá lindo! Obrigada bebê.)
4- Concluir de uma vez por todas os ensaios, histórias, roteiros, peças e contos inacabados que lotam minhas gavetas. (Então... Por falar em histórinhas minhas... Uma coisa de cada vez né gente? To muito enrolada ultimamente além de eu estar uma fase mais roterista que propriamente escritora, e é muito frustrante você borbulhar ideias na cabeça e não ter a técnica para isso, aí me desmotivo... Resumindo: Pendente.)
5- Cantar apontando para alguém na platéia. (Tá aí uma coisa que fiz e que lembrei na hora desse texto! Foi da vez que fui num aniversário num karaokê com banda e ao cantar ''Você não vale nada mais eu gosto de você'' com um amigo, apontei para o pessoal lá embaixo, mas sem especificar quem... Vale?)
6- Chutar o balde que contém todos os meus medos. (Olha... Esse foi o momento emo da listinha que na época tinha tudo a ver e tal, mas depois que passa a gente vê que o esforço, esforço consciente para que isso acontecesse não foi utilizado e sim o ''viver'' como já deveria ter sido. Não sei se foram todos, mas que eu derrubei uma boa parte no chão e fiquei olhando depois para tentar descobrir o que era, sim.)
7- Ter um episódio na vida que daria um ótimo filme antigo em preto e branco. (Ahhh! Isso com certeza teve! Especialmente em 2009, meu ano mais EU que tive, onde o que consigo lembrar com mais detalhes foram dígnos de um vestido à la Scarlett O'Hara, Bergman e uma música do Nino Rota. Tirando o ''jogo da verdade'' que foi bem século 21, senão seríamos todos queimados na fogueira. Tá, esse momento pode ser no mínimo um cult metido a besta em sépia.)
8- Aprender de uma vez por todas as músicas que eu enrolo. (Xi! Essa eu não aprendo de nenhum jeito gente... Não é possível, só pode ser um distúrbio que os médicos ainda não encontraram a doença muito menos o remédio. Resumindo: Pendente.)
9- Ler todos os livros que eu quero ler. (Esse ai é Mea Culpa, Mea Maxima Culpa. Estou muito relapsa com livros, lembro de ter lido poucos que estavam na minha listinha mental que só aumenta como: Admirável Mundo Novo, Otelo, O Símbolo Perdido, O Clube do Filme, Desista! e olhe lá... tsc, tsc, tsc.)
10- Dirigir um daqueles carros-monstro. (Esse aí foi por falta de oportunidade, põe só um caminhão-monstro para alugar tipo Kart para ver se eu não vou?)
11- Chegar numa loja e falar: "Eu vou querer tudo". (Esse eu fiz! Por incrível que pareça esse tópico achei que nunca iria realizar de fato. Mas basta você trabalhar durante três meses guardando boa parte desse dinheiro e depois poder gastá-lo numa loja em Nova York pedindo de fato tudo, eu disse tudo o que você quiser... Bons tempos de rica.)
12- Ter uma personagem nos Simpsons. (ou quem sabe um anime) (Eu acho que os Simpsons não vai rolar, mas o anime sim! Na verdade um mangá que é um anime em figuras de quadrinho que a minha amiga tá fazendo e que tenho uma personagem inspirada. Suteki!)
13- Aprender um instrumento musical e ter talento para isso, e aí sim ter uma banda. (Eu até que tentei teclado e violão, mas tô longe ainda...)
14- Escrever um livro (mais de um no caso). (''RT'' para o tópico 4)
15- Sair dirigindo um dia e parar só quando a gasolina acabar. (Só me falta uma coisinha pequenininha que se não fosse contra lei e eu não fosse para a cadeia por isso já teria feito a muito tempo: carteira de habilitação. Resumindo: Pendente.)
16- Viver em Nova York. (Só uma questão de tempo my friends.)
17- Encontrar meu Ying Yang. (Eu até que encontrei! É literalmente do tamanho de uma moeda de 25 centavos e vai ficar no meu ombro direito assim que eu tiver grana para pagar essa tatuagem.)
18- Parar de imaginar, sonhar e pensar coisas que não me fazem bem, mas que mesmo assim as faço para me martirizar por alguma razão que ainda desconheço. (Xi! Esse é difícil também... Resumindo: Em manutenção.)
19- Praticar Le Parkour. (Se valer saltar e pular de pedras numa cachoeira ao invés de prédios e praças, então sim! Se não... Bem, ''RT'' para o tópico 10)
20- Escutar "eu te amo". (Resumindo: Pendente.)

terça-feira, 6 de abril de 2010

a teoria das galochas.

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It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)
R.E.M
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Bastou-me apenas uma visão para que a minha vontade de escrever voltasse novamente desde o dia 15 de março... A fotografia de uma boneca sem roupas caída em meio a lama na rua veio para mim como Robert Capa na guerra, sem querer me deixei tocar pela trágedia ao invés de temas lindos e felizes que me vieram à cabeça a semana toda. Apesar de não faltarem assuntos a se falar desde que eu cheguei ao Brasil, o desânimo para fazer qualquer coisa me tomou de tal maneira que não conseguia nem me expressar...
Desde de ontem a noite, o Rio de Janeiro enfrentou algo nunca visto com tanta intensidade nas últimas décadas, a chuva que se abateu contra palmeiras, ruas com má infra-estrutura e cariocas despreparados causou mais do que dor de cabeça nas pessoas que as estavam enfrentando, como uma coisa tão bonita ao meu ver de manhã que caía do céu branco opaco pode causar tanta destruição por ser simplesmente... água?
Logo pela manhã meu humor já não estava muito para ir à faculdade e quando as autoridades aconselharam a gente a ficar em casa achei que seria uma boa deixa para se fazer absolutamente nada, mas na hora não me toquei que esse nada era realmente NADA. O tédio nesses últimos dias já me acompanhava numa semana que pelo menos tinha a faculdade para preencher 1/3 do dia, mas hoje não havia nada, apenas a chuva, minha rua alagada, repórteres surtando, uma dvdoteca que já cansei de ver e uma SKY que não passava nada de interessante. Ok... Não era tão legal quanto eu imaginei. Durante um tempo consegui me sedar vendo programas que não queria ver, me maquiando para testar a nova maquiagem (...), separando as cartas do baralho em ordem alfabética de naípes e númerica crescente, vendo a chuva diminuir pela janela da sala e tentando convencer a minha mãe gripada e irmã sem paciência a jogar Scotland Yard, nada feito... O problema não era o ficar sem fazer nada, e sim a caixinha de Pandora que está a minha cabeça ultimamente, o ócio para mim está um perigo, metaforicamente poderia dizer que é a chuva que cada vez mais chove dentro de mim me fazendo afogar em mim mesma. Precisava sair... Andar à ermo.
Já tinha parado de chover quando vesti as minhas galochas que vão até os joelhos e peguei a minha bolsa com o Ipod e dinheiro para alugar um filme na locadora que na verdade nem sabia se estava aberta ou não, mas para falar a verdade queria mesmo é dar uma volta. Era tanta a tragédia que anunciavam que fiquei até sufocada, precisava de ar. Enquanto andava e escutava música via os estragos que a chuva havia feito durante toda a sua atuação: lama, lixo, lojas fechadas, parecia um final de domingo chuvoso em final de campeonato Fla x Flu no Maracanã. Era triste por causa das mortes e pessoas desabrigadas, mas sem querer uma Amelie, ou quem sabe Pollyanna ou até mesmo a Lilly Allen naquele clipe baixou em mim e achei até que bonita a cena... Homens do Apoio ajudando velhinhas a pular as poças d'água, vizinhos se mobilizando para limpar as calçadas todas sujas de terra, o céu branquinho branquinho com minúsculos pontinhos decantando sob minha cabeça parecendo floquinhos de neve, a criança que se soltou da mão da mãe só para colocar o pé no lodo mesmo depois levando uma bronca da própria e a foto que não tirei não sei porque da boneca caída no chão. Parece que eu tenho quase que uma necessidade empírica de poetizar as coisas e torná-las, não sei, coloridas apesar das fotografias de Capa serem em preto e branco.
É quando ninguém mais vê beleza num lodo que nasce um lótus que nos faz perguntar o porque nos tocamos com coisas que a primeira vista são um caos e para que elas se apaziguem dentro da gente devemos achar o lótus desta própria coisa... É quando há apenas poças que a única diversão tirada é a de usar galochas e andar sob elas. Tenho a teoria de que todo mundo devia ter pelo menos uma galocha... Acho que é esse o grande remédio da depressão humanitária que só faz prender as pessoas dentro delas mesmas, o sentimento diário de se auto regular e privar de certas coisas que deveria ser levada ralo abaixo pelo uso de galochas na chuva. Nada mais libertador do que enfiar com toda a sua força a galocha na poça dando de primeira aquele sentimento de estar fazendo uma coisa ''tabu'' só que na verdade não atinge você de fato.
Não entendo essa humanidade que cismou de se guardar por acanhamento e acomodação, seria mais saudável ter pelo menos uma válvula de escape qualquer seja ela gritar do nada no meio da rua, fazer o que gosta mesmo com meio mundo contra, ficando sozinho, acompanhado ou até mesmo andar à ermo como num clipe passando por poças, lamas e lixos como se fosse a coisa mais normal do mundo para depois ao chegar em casa e levar a pobre coitada da galocha direto para o tanque.
Terminou com um verbo que não deveria estar começando este parágrafo, numa locadora surpreendentemente aberta para este domingo chuvoso disfarçado de terça, fui pegar pelo menos dois filmes para me atualizar e tornar esse fim de tarde mais prazeroso, mas devo confessar que minha ideia de gênio não foi de tão genial assim porque outros gênios tiveram a mesma ideia que eu ficando junto comigo na fila em pelo menos vinte minutos... Mas tudo bem, já estava bem melhor. O mundo podia estar acabando lá fora, mas pelo menos o meu fim de mundo interno ficou um pouco preso sob a terra dos asfaltos limpando em água suja algo que estava bem mais preto do que ele.