quarta-feira, 23 de setembro de 2009

da janela.

Isto é uma carta de amor. Achei milhões de outras formas de começar, mas nenhuma delas era essa e quando eu a encontrei, fiz questão de usá-la porque... É isso... Uma carta de amor.
Suas mãos estão tremendo... Não fique aflita, por favor. Sei como teu rosto fica quando está com o coração apertado, sei disso das inúmeras vezes que te vi olhar a lua de madrugada no domingo, provavelmente pensando nas poucas horas que ainda restavam para o dia amanhecer e você nem ter dormido, por isso, te aconselho sentar no chão, pois não quero ser o estopim de teus prantos que levaram-te a cair de exaustão como a notícia daquele dia...
Mas agora sorria, coisa que faz tão bem como um dom que se recebe ao nascer dando "Bom dia" para o sol que acaba de acordar assim como você.
Oi... Você não me conhece, mas eu conheço você por gestos, manias e dias que passo afinco olhando pela janela do meu quarto você me esvaziar e me preencher de Você. Dá para ver que eu não tenho nenhuma experiência nisso, afinal só faz quatro meses de alguém que sempre começa a pentear o cabelo pelo lado direito, que mordica a unha do dedo mindinho quando está pensando, que escova os dentes olhando o movimento e que dança no quarto com as janelas fechadas crendo que é só vista por ela mesma refletida no insulfilm quando menos espera que ali do outro lado há alguém que também não consegue dormir.
É... Eu te vi pela primeira vez numa tarde chuvosa quando meu humor não estava nos melhores dias assim como o tempo, cheguei no meu quarto irritado com o mundo devido a um motivo que agora não me lembro, pois você estava ali... O cabelos molhados pelo vento aguado que soprava, as costas envergadas para trás circundando com a cintura o parapeito da janela, os braços abertos para baixo e uma expressão não muito convincente de felicidade no rosto respingado, e foi aí... Nesse mesmo momento, nessa exata parte que te adoro desde que te vi... Adoro o fato de se esquecer que o insulfilm está colocado ao contrário e fazer caretas para si mesma no reflexo do vidro quando está entediada, adoro o fato não conseguir dormir no total escuro sempre deixando o abajur aceso todas as noites, adoro suas estrelas de cinco pontas e corações deformados no bafo do frio que faz no inverno, adoro o fato de comer uvas no fim de tarde e à surdina jogar no quintal abaixo as sementes, adoro aqueles dias que de janela fechada nós dois nos olhamos olhos nos olhos: você me olhando, mas não me vendo e eu te vendo, mas não me encontrando.
Isso era para ser uma carta de amor com poesias e flores, bombons e serenatas, mas acabou que veio isso mesmo... A expressão sincera e encantada de um dia encontrar você para que eu possa saber o seu nome e você o meu que eu esquecerei assim que me disser o seu, pois com você fico sem palavras. No momento estou escrevendo na sala só para não voltar olhar pela janela você escrevendo no computador coisas que prefiro não imaginar para não parar de escrever essa carta e enlouquecer.
Queria te conhecer mais do que rodopios de madrugada ao som de Beirut, mais do que as maçãs que come de café da manhã, mais do que os choros escondidos no quadrado da imensidão se refugiando à estrelas, lua e também a mim. Queria ouvir a sua voz, queria poder chamar teu nome e você virar para mim e sorrir lentamente como sempre faz quando algo é importante, que vai crescendo dentro de ti e explodindo no final com tanta luz que precisa fechar os olhos para dar espaço a um grande sorriso.
Bem... É isso. Acho que exagerei um pouco não é? Vou parar por aqui para você não achar que eu sou um maníaco, mas só te peço uma última coisa...
Da próxima vez que abrir a janela e olhar... Me veja.

O garoto pára com a mão latejando em frente do papel semi-amassado, respira fundo e conclui que é isso aí, era agora, era hoje. Caminhando pelo corredor, ele faz um avião com o papel que tinha acabado de manchar de tinta, abre a janela de seu quarto e encara uma janela aberta na sua frente aberta só que com nenhum indício que alguém estivesse nele. Ele então passa os dedos pelo cabelo empurrando-os para trás e puxando uma grande quantidade de ar em sincronia com o primeiro movimento, ele observa o avião branco na sua mão direita, inclina-se para trás e o joga no vão que os separavam. O avião plaina numa linha de vento em direção ao quarto dela quando de repente... O avião vacila rodopiando em círculos em direção ao chão assim como o coração do garoto sem palavras.

3 comentários:

  1. Eu AMEI isso. Mas não devia ter postado, poxa! Devia ter deixado para o video! =PPPP

    Bjoooos s2

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  2. Lindo! A melhor parte é a dos olhares.
    Fico imaginando quão bonito será.

    :)

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