terça-feira, 16 de junho de 2009

Magical Mystery Tour - Capítulo 5

Rocky Raccoon

Agora em algum lugar nos morros das montanhas negras do Dakota...

Um rapaz desce por uma ruela de terra com suas botas de cowboy e um cigarro no canto da boca em direção a cidade mais abaixo. Sua expressão ninguém podia lhe falar, estava impassível e ao mesmo tempo sorrindo lembrando-se de fatos que normalmente o faria chorar. Magil... Ele remoia em sua cabeça lembrando que ela tinha ido embora. Tinha fugido com outro sujeito... Rocky coça os olhos com vergonha por estar chorando de novo apesar de estar sozinho nas montanhas. .
-Eu vou pegar aquele cara.
Rocky Raccoon diz olhando para frente e se deparando com a pequena cidade que se materializava aos seus olhos.
Não tinha gostado daquilo. Nem um pouco. Magil era seu amor, sua mulher e de uma hora para a outra ela tinha fugido com outro cara. Isso tinha o desestabilizado, tinha o acertado em cheio, morria por dentro e queria levar alguém junto.
Ele chega à cidade antes do pôr-do-sol se hospedando logo após num saloon local decadente. Rocky entra em seu quarto e deita-se na cama com muita força como se seu coração pesasse toneladas, ele fecha os olhos identificando os pequenos barulhos que o rodeava: os carros na rua, a mosca que zumbia tentando atravessar o vidro da janela, o ventilador que rodava calmamente na velocidade mínima e os murmúrios apaixonados de um casal do quarto ao lado do seu. O rapaz tira do bolso de sua camisa uma pequena bíblia de capa de couro e a observa com carinho como se estivesse pedindo desculpas, ele a gira diversas vezes notando cada detalhe que tinha, pega o cigarro que estava fumando da boca e o apaga na capa do livrinho preto. Era agora ou nunca, Deus e o mundo podiam lhe julgar, mas o que realmente importava para si naquele momento era a arma no cós de seu jeans e aqueles risinhos odiosos vindos do outro lado da parede que o deixavam nauseado.
Iria atirar nas pernas do seu rival para que nunca mais pudesse fugir com a mulher dos outros novamente. Rocky retira a arma da cintura e a examina com estranha fascinação. Ao que parece, ele pensa, seu rival tinha quebrado seus sonhos ao roubar a garota que ele gostava, que realmente gostava. Magil... Que se chamava de Lil, mas todos a conheciam por Nancy.
-Daniel. Dan, hun?
Rocky sorri maliciosamente enquanto arrastava sua cabeça para trás até ver a parede que os dividia.
Do outro lado dela, um rapaz e uma moça de cabelos cacheados estavam deitados na cama de casal e se olhavam ternamente enquanto profanavam juras que não sabiam ao certo se poderiam concretizar. O amor deles era real, mas a situação fantasiosa demais, tanta que os consumia de tal forma fazendo-os de refém em suas próprias vidas.
De repente num estrondo a porta do quarto cai para frente fazendo o casal se levantar depressa. Surge então Rocky Raccoon de arma em punho e sorriso malicioso nos lábios dizendo:
-Danny boy, é hora de mostrar as cartas.
Há um estouro de festim quando alguém cai para trás e um grito de mulher ressoa por todo o corredor do saloon. Rocky desmorona num canto gemendo de dor e colocando a mão no coração cheio de sangue. Então quer dizer que Dan sacara antes que ele?
-Lil... Você é a culpada.
Ele consegue dizer ainda olhando para o chão evitando o contato visual com a moça ajoelhada na cama e de mãos na boca para não gritar mais.
-Quando... Foi embora... Eu fiquei frio. Agora seu calor... Está com...
Rocky olha para Dan um pouco mais ao longe o encarando com uma pistola na mão e completa:
-Danny boy. Eu... Vou te pegar.
Dito isto, Rocky desmaia ali mesmo no canto.
É passado algum tempo até quando Rocky abriu seus olhos mais uma vez, o quarto todo cheirava a gim e álcool destilado, percebeu também que estava deitado numa mesa e que seus pés estavam dependurados e nus.
-Rocky, meu rapaz, você encontrou seu rival.
O doutor retira do bolso da camisa de Rocky a bíblia ensangüentada com uma bala cravejada.
-Tem alguém lá em cima que gosta muito de você, se não fosse essa bíblia o tiro seria mais profundo provavelmente atingindo o coração.
-É só um arranhão doutor... Estarei melhor... Assim que eu puder.
-Arranhão... Vocês cowboys se acham invencíveis não é?
O doutor brinca bebendo mais um gole de gim e o fazendo deitar de novo na mesa. Ele limpa a boca com as costas da mão e em seguida derrama o restante da garrafa no peito aberto de Rocky fazendo-o urrar de dor. Gritava por aqueles dois não estarem mais lá, gritava de raiva de si mesmo, gritava de ódio pelo cara que levara embora seu único amor, aquele que abriu seu peito o deixando para sangrar logo depois. Jurava vingança em confidência a si mesmo enquanto bebia o resto do gim aguentando os últimos pontos do doutor, jurou pegar e acertar as contas com aquele cara de uma vez por todas. De uma vez por todas.

Na calada da noite, Rocky se deixa cair na cama de seu quarto apesar de ainda sentir dor, retira sua camisa social branca e agora também vermelha a atirando em seguida no chão. Tinha um curativo enorme no peito esquerdo que doía mais do que sua dor interna. Vingança, ele pensa, enquanto acendia o último cigarro do maço e o colocando sob os lábios. Rocky solta a fumaça fazendo-a bater contra os vidros frios da janela do quarto quando seus olhos encontram um pequeno livro em cima da mesinha de canto. Realmente a bíblia não tinha deixado dúvida, alguém lá em cima iria ajudar na sua recuperação, ou alguém lá embaixo, ele reflete com um sorriso macabro nos lábios sob a lua cheia.

2 comentários:

  1. AH..

    Quase não pude esperar.

    Realmente, estou gostando muito dos capítulos, do fato deles serem misteriosos no final, sabe? A gente fica louca para saber quando ou se as histórias vão se juntar..

    Parábens

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