quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

sinestesia.

Fecho os olhos e respiro o ar frio que percorre em mim atingindo todas as partes do meu corpo. O barulho e de um riacho uns quinze centimetros abaixo de mim assim como os gorjeios dos corvos a cima. Suspiro agora de olhos abertos gostando do vejo, um andar a ermo natural a uns cinquenta passos da minha casa, caros queridos leitores, lhes apresento: o Rio.
Nao, nao to no Rio de Janeiro, o rio que vos falo e literalmente um rio com suas pedras polidas e agua corrente verdinha que pela sua velocidade ate da um pouco de medo de chegar mais perto. Ha muito tempo tenho tido vontade de escrever aqui, fiz ate um texto uns dois dias atras, mas nao gostei, tentei mais um ontem, mas nada feito, se bobear esse aqui nem va sair do papel que escrevo no momento, pois apesar de eu sentir que tem muita coisa aqui dentro que eu preciso transcrever, na hora do ''vamo ve''... Nada sai, quer dizer, sair sai, mas nao da forma que eu pretendia me expressar.
To escutando Memory da trilha sonora do filme japones A Partida (que e muito bom, recomendo) dando um tempo na natureza que me engole aqui nessa solidao fria pra dedeu. A musica nao e triste, poderia se dizer que e ate melancolica, mas nao consigo me sentir assim com essa vista e tendo em mente tudo o que eu estou passando aqui, apesar do que eu estou vendo agora ser de um cinza meio morto devido ao fog, ao escutar essa musica so consigo imaginar alguem deitado numa grama bem verde de olhos fechados e sorrindo sem mostrar os dentes para ser mais exata.
Sinestesia... Hum. E quando voce sente uma mistura de sensacoes que a principio podem ate parecer inverossimeis colocadas numa analogia meio nada a ver como: a visao com gosto, o olfato com sensacao, o tato como uma imagem... Aprendemos tal classificacao na escola, em literatura, lembram? Figuras de linguagem que os poetas usavam para se fazerem expressar melhor. E que ate pouco tempo atras eu achava que isso so acontecia na segunda geracao romantica ou servia para passar de ano, mas me toquei que quando ando a ermo e exatamente isso que acontece... Me toquei que sou ''sinestesica'', se e que tal termo existe.
Quando ficamos sozinhos acabamos topando com nos mesmos, com pensamentos que parecem banais na correria do dia-a-dia, mas que se deixados para la e acumulados desde entao: caixinha de Pandora. Os andares a ermo nos ajudam a botar nossa vida no lugar ou bagunca-la que tambem pode ser uma coisa boa, principalmente hoje que so eu estou de folga e sendo que ontem ja fiz tudo o que eu poderia fazer hoje para preencher esse meu ocio. Poderia ir ate a cidade de bike, mas choveu hoje de manha e eu to com medo de ir sozinha na Highway molhada correndo o risco de pegar chuva na volta... Droga. Resumo da opera: estou aqui... Presa em mim mesma nesse meu fim de mundo preferido e terrivelmente frio.
Paciencia... Pelo menos estou conseguindo escrever de novo, coisa que me fazia falta e que ja estava comecando a me incomodar. Olho para cima e vejo as nuvens carregadas e densas se movimentando lentamente, num impulso pensado, ja que ninguem esta me olhando, levanto a mao para tentar sentir uma maciez sobrenatural que meus olhos captaram, um vento singelo envolve os meus dedos me fazendo quase crer que a sensacao que eu estava sentindo era de fato como uma nuvem deva ser: como uma bola fofa de ar frio, como espirais de fios de algodao que voce nao consegue ver e sim sentir.
Ja sentiram uma dor gorda? E quente? As frias e magrinhas sao as piores nao sao? Como quando voce corta o dedo com uma folha de papel ou bate o dedinho do pe na quina da porta. Dores agudas que dao ate um raio imaginario, um raio prateado na sua cabeca quando acontecem. Dores quentes e gordas sao vermelhas com tons amarronzados, sao aquelas masoquitas que voce sente ate prazer de as ter e fica pesaroso quando elas acabam, tipo uma dor nas costas ou um roxo em qualquer lugar que voce e mais ninguem sabe onde tocar para ''aliviar''.
Sinestesia sao as musicas de quatro elementos. O vento da visao dos cabelos voando ou olhos fechados numa determinada parte da musica, o fogo de alguem correndo quando a batida aumenta, a terra de alguem deitado no chao e uma camera aproximando ou se afastando dependendo da intensidade da musica, e a agua dos movimentos ondulares das ondas e estouros das mesmas e da bateria quando ha pedras e batidas. Ja sentiram isso? Ja viram isso? As vezes gosto de musicas sem ao menos entender a letra so por associar a primeira vista tais elementos que me chamam atencao, musicas que tem sentimento sabem? Que sao de alguma forma vivas, como a natureza dos elementos presentes nelas. As que mais gosto sao as que tem vento e fogo, mas quando encontro uma completa com os quatro e amor a primeira vista... Quer dizer, ''ouvida''. Tentem um dia fazer isso, mal nao faz. Musicas que contenham os quatro elementos... Tipo aquele filosofo que agora nao me lembro o nome que dizia que percebiamos na natureza os quatro elementos, pois eles existiam nos nossos olhos. Mas voce quer saber, com o perdao da palavra velho-senhor-qual-o-nome-nao-me-lembro-no-momento, venho aqui retificar a sua ideia e dizer que tambem ha nos ouvidos! ^^
Mais sinestesia... Hum deixa eu ver... Ha quando sentimos o cheiro de algo e nos lembramos das coisas mais diversas e nada a ver que existem. Testei isso com tres pessoas que conheco. A primeira me remetia a uma casa de verao. Isso ai... O cheiro dessa pessoa era como uma casa de verao para mim, como se fosse um escape, algo novo, mas que tambem nao durava para sempre. O.o'' Gente... Botando assim no papel parece ate que eu sou vidente... eunheim.
A outra me cheirava a edredom. Sim, edredom, principalmente aqueles quentinhos que te enrolam todo como num gostoso abraco. Um cheiro bom, um cheiro branco, sabem como e que e? E por ultimo um cheiro de caixinha de joias, e... Uma caixinha de joias daquelas pequenininhas que voce guarda o seu primeiro dente que caiu ou uma medalinha de Nossa Senhora de ouro que a sua avo te deu quando voce fez catecismo.
Um cheiro meio nostalgico, um cheiro de conforto que vai estar sempre ali na sua cabeceira emanando um aroma antigo te remetendo a infancia, com sua cor dourada que te traz felicidade, com suas marcas pelo tempo que passou e em silencio que te faz lembrar de uma musica completa. Com quatro elementos.

5 comentários:

  1. Há! Faz tempo que quero fazer um texto com esse título: Casa, cheiro e cuscuz
    Quando sinto cheiro de café me lembro da casa da minha avó, aqui em São Luís. Às 16h a mesa é posta com café, pão e alguns quitutes, dentre eles cuscuz acompanhado com leite de coco.
    Ou então quando sinto cheiro de sundown com maresia. Não me lembra praia, mas sim SÃO LUÍS.
    Se ando na rua e sinto esses cheiros falo para mim mesma com um sorriso de satisfação: Tem o cheiro da casa da minha vó, tem o cheiro de São Luís.

    Como é bom!

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  2. Que texto profundo! E BONITO!
    A-há! Eu sei quem são as 3 pessoas que você lembra quando sente o cheiro! E lembro que nós chegamos a conclusão que era passageiro o da "casa de verão" juntas... HAHAHA!
    Ai, que saudades desses momentos!
    Te amo, Lalazinha!
    Big beijos do seu EDREDOM! =)

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  3. Nossa Laís que texto lindo!Parabéns!
    Me fez lembrar, assim como a Bruna, momentos importantes na minha vida alem da visão! Ah, o sundown tambem me lembra praia e cheiro da casa da minha vó!rs
    Pude olhar com uma nova perspectiva fatos do passado onde a imagem foi só um detalhe e que o importante mesmo para coloca-los na nossa memória como favoritos foi outros sentidos tornando estas lembranças ainda mais reais, simples e profundas.

    bjuhh ;)

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  4. Lalá, que texto lindo - como diz a Giovana: BRILHANTESCO --tá escrevendo super bem! Cada vez melhor, parabéns!
    Estou, ou melhor, estamos com MUITAS SAUDADES de você aqui no Brasil!


    beijossss
    dandara *-*

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  5. "Sinestésica", existe. A Laís inventou... =D

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